Aguardente de medronho de qualidade
A aguardente de medronho, também popularmente
designada de "medronheira", produz-se desde tempos imemoriais no
concelho. Pertencente à categoria das aguardentes de frutos, como o
próprio nome indica, resulta da fermentação e destilação de um
fruto, no caso, o medronho.
Muito sumariamente, tendo em conta o seu processo de fabrico
tradicional, a qualidade dos frutos, a quantidade de água
adicionada, o tempo de fermentação, a temperatura no início da
destilação, a sua rapidez e o modo de recolha do destilado, eram os
principais segredos de cada produtor.
Por outro lado, sendo as aguardentes misturas complexas de
álcoois, ésteres, terpenos e ácidos, entre outros compostos
resultantes (quer dos frutos, quer do seu processamento), o que
diferenciava os vários tipos de aguardente era a proporção relativa
em que estes compostos se encontravam e cada produtor ia aferindo o
seu processo de produção tendo em conta diversas
variáveis.
Hoje em dia, se queremos um produto diferente e bem
posicionado, temos de apostar sempre na sua Qualidade. Em termos
muito genéricos e em primeiro lugar, esta tem de ser garantida a
montante, pela qualidade da matéria-prima (selecionando os frutos
maduros e eliminando os verdes, folhas e pedúnculos, os quais são
prejudiciais à qualidade final do produto).
Em segundo lugar, outro aspeto a ter em conta prende-se com a
recolha de uma amostra de frutos, analisando as suas
características físico-químicas (grau Brix, açúcares redutores,
humidade e acidez total). Esta análise determina o teor de água a
adicionar e a eventual adição de corretivos de acidez. Ainda ao
nível da fermentação e em terceiro lugar, devem utilizar-se
fermentadores próprios (de plástico ou de inox).
Em quarto lugar, após a destilação no alambique, o produto
obtido deve ser recolhido para recipientes de vidro ou inox e nunca
para recipientes de plástico, uma vez que o álcool pode retirar do
plástico compostos que poderiam ser prejudiciais à saúde, como
estireno.
Muito importante e em quinto lugar, sabendo que de uma maneira
geral os três parâmetros que condicionam a qualidade dos destilados
são: o metanol, o acetato de etilo e a acidez total; está
comprovado que uma aguardente de medronho bem processada não
apresenta excesso de metanol (de acordo com a legislação em vigor),
nem valores anormais de acetato de etilo ou excesso de acidez.
Estes parâmetros são garantidos se aquando da recolha do destilado
se rejeitar a primeira quantidade de aguardente ("cabeça") e a
última ("cauda" ou "frouxo"), nos quais se encontram os compostos
indesejáveis e eventualmente prejudiciais para a saúde,
aproveitando apenas o "coração" da aguardente. Só assim se garante
um bom processamento e uma aguardente de qualidade.
Por último, a aguardente deve ser acondicionada em recipientes
de vidro ou inox até ao seu engarrafamento. Caso se opte pelo
envelhecimento, o destilado deverá ser colocado em barricas de
madeira, havendo o cuidado de as atestar periodicamente para evitar
perdas de aguardente, sobretudo no verão, devido à evaporação
através dos poros da própria madeira.
Concluindo, a obtenção de uma aguardente de qualidade é uma
premissa fundamental para a sua diferenciação e afirmação numa
fileira que começa cada vez mais a atrair inúmeras oportunidades. A
garantia desta qualidade é um processo que passa pelas diferentes
fases da cadeia de produção e se inicia aquando da apanha do fruto
(selecionando apenas os maduros e eliminando folhas e pedúnculos) e
que passa, por exemplo, pela remoção da "cabeça" e da "cauda" do
destilado, prolongando-se até ao seu acondicionamento e eventual
processo de envelhecimento.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma