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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Aguardente de medronho de qualidade
ines copy.jpgA aguardente de medronho, também popularmente designada de "medronheira", produz-se desde tempos imemoriais no concelho. Pertencente à categoria das aguardentes de frutos, como o próprio nome indica, resulta da fermentação e destilação de um fruto, no caso, o medronho.
Muito sumariamente, tendo em conta o seu processo de fabrico tradicional, a qualidade dos frutos, a quantidade de água adicionada, o tempo de fermentação, a temperatura no início da destilação, a sua rapidez e o modo de recolha do destilado, eram os principais segredos de cada produtor.
Por outro lado, sendo as aguardentes misturas complexas de álcoois, ésteres, terpenos e ácidos, entre outros compostos resultantes (quer dos frutos, quer do seu processamento), o que diferenciava os vários tipos de aguardente era a proporção relativa em que estes compostos se encontravam e cada produtor ia aferindo o seu processo de produção tendo em conta diversas variáveis. 
Hoje em dia, se queremos um produto diferente e bem posicionado, temos de apostar sempre na sua Qualidade. Em termos muito genéricos e em primeiro lugar, esta tem de ser garantida a montante, pela qualidade da matéria-prima (selecionando os frutos maduros e eliminando os verdes, folhas e pedúnculos, os quais são prejudiciais à qualidade final do produto).
Em segundo lugar, outro aspeto a ter em conta prende-se com a recolha de uma amostra de frutos, analisando as suas características físico-químicas (grau Brix, açúcares redutores, humidade e acidez total). Esta análise determina o teor de água a adicionar e a eventual adição de corretivos de acidez. Ainda ao nível da fermentação e em terceiro lugar, devem utilizar-se fermentadores próprios (de plástico ou de inox).
Em quarto lugar, após a destilação no alambique, o produto obtido deve ser recolhido para recipientes de vidro ou inox e nunca para recipientes de plástico, uma vez que o álcool pode retirar do plástico compostos que poderiam ser prejudiciais à saúde, como estireno. 
Muito importante e em quinto lugar, sabendo que de uma maneira geral os três parâmetros que condicionam a qualidade dos destilados são: o metanol, o acetato de etilo e a acidez total; está comprovado que uma aguardente de medronho bem processada não apresenta excesso de metanol (de acordo com a legislação em vigor), nem valores anormais de acetato de etilo ou excesso de acidez. Estes parâmetros são garantidos se aquando da recolha do destilado se rejeitar a primeira quantidade de aguardente ("cabeça") e a última ("cauda" ou "frouxo"), nos quais se encontram os compostos indesejáveis e eventualmente prejudiciais para a saúde, aproveitando apenas o "coração" da aguardente. Só assim se garante um bom processamento e uma aguardente de qualidade.
Por último, a aguardente deve ser acondicionada em recipientes de vidro ou inox até ao seu engarrafamento. Caso se opte pelo envelhecimento, o destilado deverá ser colocado em barricas de madeira, havendo o cuidado de as atestar periodicamente para evitar perdas de aguardente, sobretudo no verão, devido à evaporação através dos poros da própria madeira.
Concluindo, a obtenção de uma aguardente de qualidade é uma premissa fundamental para a sua diferenciação e afirmação numa fileira que começa cada vez mais a atrair inúmeras oportunidades. A garantia desta qualidade é um processo que passa pelas diferentes fases da cadeia de produção e se inicia aquando da apanha do fruto (selecionando apenas os maduros e eliminando folhas e pedúnculos) e que passa, por exemplo, pela remoção da "cabeça" e da "cauda" do destilado, prolongando-se até ao seu acondicionamento e eventual processo de envelhecimento.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma