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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
As hormonas e o outono
claudia.JPGChegou o outono e, tipicamente, as árvores caducifólias ganham progressivamente os tons amarelos e laranjas tão característicos das paisagens naturais nesta estação do ano. Depois do espetacular quadro cromático com que nos presenteiam, acabam por ficar despidas de folhas, com troncos e galhos expostos ao frio do inverno. Apesar da paisagem ficar mais tristonha, não nos choca, pois sabemos que este é apenas um processo adaptativo destas plantas para enfrentar as baixas temperaturas. 
Os dias mais curtos, com menos luz solar, obrigam a uma redução da fotossíntese e, tal como os animais que têm necessidade de hibernar, também estas árvores entram num período de dormência, por forma a evitar gastos de energia e poupar as reservas alimentares acumuladas no período em que as horas solares foram mais abundantes. 
Este processo, aparentemente simples, é na realidade resultado da ação conjunta de substâncias produzidas nas células vegetais, as fito hormonas, das quais se destacam 5 grupos principais: auxinas, citocianinas, giberlinas, etileno e ácido abscísico. De uma forma simplificada, podemos dizer que as três primeiras promovem o desenvolvimento das várias partes da planta e estimulam a multiplicação celular. Antagonicamente, o etileno provoca o amadurecimento dos frutos e induz a abscisão (perda) das folhas e o ácido abscísico provoca a iniciação e manutenção do estado de dormência de sementes e gomos, sendo responsável também pelo fecho dos estomas das folhas. Há de facto uma correlação entre os níveis de ácido absícísico, auxinas e etileno. A presença do primeiro promove a diminuição da auxina, diminuição essa que provoca o aumento da produção de etileno. As folhas envelhecidas perdem a capacidade de síntese de auxina, o que faz com que seja também nesta fase que os níveis de etileno subam nas células do pecíolo das folhas, provocando o rompimento das paredes celulares, fragilizando esta parte da folha que, às primeiras rajadas de vento e chuva do outono, acabam por se desprender da árvore e cair. 
Já o facto das folhas que caem serem amarelas, cor-de-laranja e avermelhadas deve-se ao fecho dos estomas da folha, também por ação do ácido abscísico, reduzindo a fotossíntese e consequentemente a diminuição de organelos com clorofila, de cor verde, mais dominante do que os restantes cromoplastos que co-existem nas folhas, e que desta forma se conseguem evidenciar. 
A função destas folhas, contudo, não acaba aqui...ao cair no solo transformam-se em nutrientes que o enriquecem e que são absorvidos não só pela própria árvore como por outros seres vivos, num fenomenal processo de reciclagem. E mais uma vez, Lavoisier não perde a razão quando afirma que "na Natureza nada se cria, nada se perde…tudo se transforma".
Cláudia Mendes
Bióloga