Luto: realidade necessária e desafiadora
O livro Luto: Realidade
Necessária e desafiadora, vivências e interpelações pastorais
na zona do Pinhal Interior Sul, vai ser apresentado no próximo dia
1 de novembro, no auditório da Casa da Cultura de Oleiros, pelas
17H30. A obra, da autoria do pároco José António Gonçalves, natural
da Roda, concelho de Oleiros, constitui um excelente instrumento de
análise de um tema de que não é fácil falar.
Neste livro, editado pela RVJ Editores com alto patrocínio da
Câmara de Oleiros, que suportou os custos de produção, o autor
aborda o tema nos concelhos de Oleiros, Sertã (onde também foi
pároco), Proença-a-Nova e Mação. "A Zona do Pinhal Interior Sul é
uma realidade interessante ao nível das vivências comunitárias do
luto e dos gestos comunitários de ajuda no luto, onde se cruzam a
religiosidade popular, o sociológico e a antropologia cultural",
explica na sua nota introdutória.
José António Gonçalves, que atualmente desempenha as funções
de pároco in solidum da Paróquia de S. Miguel da Sé, São José
Operário e Benquerenças, e de Arcipestre do Arciprestado de Castelo
Branco, refere na mesma nota introdutória que se notam "muitas
alterações nesses gestos e vivências resultantes do êxodo da
população mais jovem, do incremento das vias de comunicação, da
mudança de mentalidades face à morte e ao luto. Abandonam-se mais
aspetos que exteriorizam os tempos do luto e nos centros maiores
nota-se um maior individualismo na vivência da dor".
O autor revela mesmo que "em alguns casos, já quase dá a
sensação que se pode viver e morrer sem que ninguém dê conta. Nas
aldeias o sentido da solidariedade está ainda muito presente. Para
estas mudanças contribui também a presença dos agentes funerários e
a existências de capelas ou casas mortuárias em quase todas as
localidades".
O livro é o resultado do trabalho de mestrado desenvolvido por
José António Gonçalves, e surge dividido em três capítulos. "No
primeiro procuramos definir o que é o luto: o que o constitui, como
se manifesta, como se caracterizam essas manifestações, as
diferentes reacções, as recusas, os tipos de luto, as diferentes
reacções. Servindo-os de exemplos práticos de situações de luto com
que nos deparamos", esclarece.
No segundo é feita uma "descrição das vivências do luto na
Zona do Pinhal Interior Sul, sem querermos ser exaustivos.
Apresentamos ainda neste capítulo um inquérito, sobre o luto,
sentimentos, vivências e presença, feito também nesta zona no
início do ano de 2010".
Finalmente, no terceiro exploramos esta temática como
realidade que todos temos que viver e diante da qual não podemos
ficar indiferentes. Abordamos as tarefas do luto, o que fazer para
ajudara pessoa ou a família em luto, e importância de perceber o
fim do luto. Damos, ainda, algumas sugestões pastorais no que se
refere ao acompanhamento de pessoas em luto. No final deste
trabalho acrescentamos alguns anexos, com intuito de documentar e
apoiar na compreensão daquilo que descrevemos".
Na sua nota introdutória, José António Gonçalves explica que
"o luto é uma experiência dilacerante, que toca toda a estrutura
humana, física, psicológica, familiar, social, espiritual. É um
processo que geralmente parte da negação, passa à revolta, à
tristeza/depressão e termina na aceitação. Não quer dizer que
aconteça assim com todas as pessoas, depende da pessoa que falece,
da ligação a ela, da idade, das circunstâncias da morte, etc… E
como o luto é um processo, não deve transformar-se num estado
patológico, o que por vezes acontece. Algumas pessoas necessitam de
ajuda extra para conviver com a fase do luto. Esse suporte pode ser
fornecido por pessoas treinadas, seja de agentes da saúde, seja de
voluntários ou até da própria comunidade".
O pároco dá mesmo um exemplo: "um cônjuge que viveu 50 anos ou
mais com o seu par que era tudo na sua vida e fica só e abandonado,
é natural que a pessoa não saia mais do luto que desespere e lute
pela outra pessoa, procurando-a na memória, no seu espaço, na
saudade, e não a queira "deixar" de nenhuma forma. É um luto que é
uma luta consigo próprio".
Mas, diz-nos o autor, "o luto não tem só a ver com morte, mas
com uma perda. O distanciamento de uma pessoa querida ou amiga por
várias circunstâncias, o fim de uma relação amorosa também provocam
luto pela negação, revolta, tristeza e passa-se por um processo
semelhante. O importante é ultrapassar a perda e recuperar a
motivação de vida e conseguir que a esperança nos transporte a um
novo dia, porque muitos enlutados correm o risco de viver uma
eterna noite".