Opinião
Floresta que era nossa
Felizmente, são já muitos os dias
comemorativos, ao longo do ano, que pretendem alertar e
sensibilizar para as problemáticas associadas às efemérides
ambientais. Uma delas, e a próxima a ser comemorada é a da Floresta
Autóctone, no dia 23 de novembro. Este Dia celebra-se na Península
Ibérica, e surge em complemento ao Dia Mundial da Floresta (21 de
março), pouco adequado à plantação de espécies autóctones nos
países no sul da Europa. O seu principal objetivo é o de
sensibilizar para a promoção e conservação das florestas naturais,
realçando a sua importância económica e ambiental, bem como a
necessidade de as proteger, alertando para as ameaças que
comprometem cada vez mais a sua existência.
As espécies vegetais indígenas são
fundamentais para a manutenção da biodiversidade e dos recursos
hídricos, e estão mais adaptadas às condições edafo-climáticas do
território, sem precisar de cuidados especiais, sendo mais
resistentes a pragas, doenças e a períodos longos de estio e chuvas
intensas, em comparação com as espécies introduzidas. Assim, os
receios ambientais de que extensas áreas florestais ficassem
comprometidas face à sua vulnerabilidade ao ataque de uma só praga
ou doença tornaram-se reais com o declínio de milhares de
pinheiros, por conta da invasão do nemátodo do pinheiro bravo.
Estamos perante uma seleção ambiental em que só sobrevivem as
espécies resistentes. Ora, se a quantidade de espécies presentes se
confinar a uma ou duas (pinheiros e eucaliptos), o fim da nossa
floresta não estará longe! Numa floresta diversificada, que venha o
nemátodo…ficarão os castanheiros! Que venha a "tinta"…ficarão os
carvalhos! Venha o que vier, a segurança de uma floresta ficará
fortalecida, quanto maior variabilidade genética ela
apresentar.
Para as mentalidades pouco
formatadas para as questões ambientais, talvez o fator económico
seja mais decisivo na altura da escolha das espécies a plantar e
repovoar os nossos espaços florestais. A indústria e toda a
economia ligada a uma floresta monoespecífica poderá estar
fortemente condenada, e é neste ponto que se deverá reconsiderar a
importância económica das nossas espécies autóctones. Para além da
madeira de elevada qualidade produzida por espécies autóctones do
nosso território, como por exemplo os carvalhos, temos também o
exemplo da indústria corticeira que aproveita o súber dos sobreiros
não só no fabrico de rolhas, mas também de materiais de construção
e até em peças de vestuário e acessórios de moda. E em época de
magustos, não poderia deixar de referir o exemplo do castanheiro. O
peso médio de cada castanha ronda os 13 gramas…uma só árvore poderá
produzir, por ano, 150 kg, ou cerca de 11.500 castanhas. Nas ruas
das grandes cidades são vendidas à dúzia, por 2 euros…façam-se as
contas e reflita-se um pouco sobre os variados valores destes
iniciais habitantes da floresta portuguesa! Quentes e boas…e
rentáveis!