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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Opinião
Floresta que era nossa

claudia copy.jpgFelizmente, são já muitos os dias comemorativos, ao longo do ano, que pretendem alertar e sensibilizar para as problemáticas associadas às efemérides ambientais. Uma delas, e a próxima a ser comemorada é a da Floresta Autóctone, no dia 23 de novembro. Este Dia celebra-se na Península Ibérica, e surge em complemento ao Dia Mundial da Floresta (21 de março), pouco adequado à plantação de espécies autóctones nos países no sul da Europa. O seu principal objetivo é o de sensibilizar para a promoção e conservação das florestas naturais, realçando a sua importância económica e ambiental, bem como a necessidade de as proteger, alertando para as ameaças que comprometem cada vez mais a sua existência.

As espécies vegetais indígenas são fundamentais para a manutenção da biodiversidade e dos recursos hídricos, e estão mais adaptadas às condições edafo-climáticas do território, sem precisar de cuidados especiais, sendo mais resistentes a pragas, doenças e a períodos longos de estio e chuvas intensas, em comparação com as espécies introduzidas. Assim, os receios ambientais de que extensas áreas florestais ficassem comprometidas face à sua vulnerabilidade ao ataque de uma só praga ou doença tornaram-se reais com o declínio de milhares de pinheiros, por conta da invasão do nemátodo do pinheiro bravo. Estamos perante uma seleção ambiental em que só sobrevivem as espécies resistentes. Ora, se a quantidade de espécies presentes se confinar a uma ou duas (pinheiros e eucaliptos), o fim da nossa floresta não estará longe! Numa floresta diversificada, que venha o nemátodo…ficarão os castanheiros! Que venha a "tinta"…ficarão os carvalhos! Venha o que vier, a segurança de uma floresta ficará fortalecida, quanto maior variabilidade genética ela apresentar.

Para as mentalidades pouco formatadas para as questões ambientais, talvez o fator económico seja mais decisivo na altura da escolha das espécies a plantar e repovoar os nossos espaços florestais. A indústria e toda a economia ligada a uma floresta monoespecífica poderá estar fortemente condenada, e é neste ponto que se deverá reconsiderar a importância económica das nossas espécies autóctones. Para além da madeira de elevada qualidade produzida por espécies autóctones do nosso território, como por exemplo os carvalhos, temos também o exemplo da indústria corticeira que aproveita o súber dos sobreiros não só no fabrico de rolhas, mas também de materiais de construção e até em peças de vestuário e acessórios de moda. E em época de magustos, não poderia deixar de referir o exemplo do castanheiro. O peso médio de cada castanha ronda os 13 gramas…uma só árvore poderá produzir, por ano, 150 kg, ou cerca de 11.500 castanhas. Nas ruas das grandes cidades são vendidas à dúzia, por 2 euros…façam-se as contas e reflita-se um pouco sobre os variados valores destes iniciais habitantes da floresta portuguesa! Quentes e boas…e rentáveis!

Cláudia Mendes
Bióloga