Opinião
A antiguidade de Oleiros e as oportunidades para o futuro
No ano em que se celebram os 500 anos da atribuição
do foral manuelino de Oleiros, a 20 de outubro, surge-me a reflexão
sobre a antiguidade deste território. Designado de foral novo, o
documento régio veio reformar um outro mais antigo, atribuído no
reinado de D. Sancho I, muito provavelmente no ano de 1204. Para
termos uma ideia, Oleiros é um dos poucos concelhos da região que
possuía foral velho naquela época, a par de terras como S. Vicente,
Covilhã e Monsanto. Oleiros é, portanto, um concelho com mais de
oito séculos de história.
Mas reportando-nos à época do foral
manuelino, a chamada era quinhentista. É sabido que nesta altura a
castanha era a principal riqueza destas terras (sendo uma das
principais fontes de rendimento da Comenda de Oleiros) e a base da
alimentação da população. "Em quase todas as propriedades rurais da
Comenda, naquelas onde havia árvores, o castanheiro dispunha sempre
a primazia". A atestar toda esta importância, veja-se o caso do
brasão da vila de Oleiros, no qual a espécie assume uma posição de
destaque.
Atualmente, ainda se encontram na
região "resquícios de uma floresta primitiva composta por
castanheiros, mas também por carvalhos, azinheiras e sobreiros". Na
maioria dos casos, os castanheiros encontram-se dispersos,
verificando-se pontualmente uma ou outra plantação estreme
explorada de modo tradicional.
Sendo a castanha um produto endógeno altamente
rentável e face à importância histórica desta cultura frutícola
para Oleiros, seria uma pena não fomentar a perpetuação da espécie,
através da instalação de soutos com plantas de micropropagação
resistentes à doença da Tinta.
Em termos genéricos, a região
beneficia de vários produtos de elevada especificidade e qualidade,
os quais têm bastante procura e são potencialmente muito
competitivos em mercados cada vez mais exigentes. Com o surgimento
de novos projetos que culminam muitas vezes em certames
promocionais, pretende-se passar a mensagem para o exterior de que
se estão a valorizar os produtos locais e a acreditar nas
potencialidades deste território.
Por outro lado, estes eventos têm a
mais-valia de criar sinergias interessantes entre o setor agrícola,
ambiental (pela promoção da paisagem) e turístico. Na verdade, é
fundamental que assim aconteça e que haja uma resposta efetiva aos
desafios. Os produtores só têm a ganhar com a criação de mecanismos
de concentração da oferta e com uma mais eficiente
consciencialização das regras de apresentação e comercialização dos
seus produtos, entre outras vantagens.
Por último, se nos centrarmos
novamente no caso da castanha, incentivando novas plantações de
castanheiro estamos a promover uma floresta de uso múltiplo e a
aumentar a rentabilidade do setor agro-florestal. Do mesmo modo,
promove-se a sustentabilidade dos recursos naturais e dos espaços
rurais, através da sua revitalização económica e social, pela
criação de postos de trabalho e pela melhoria da qualidade de vida,
respetivamente.
É fundamental tirar partido dos
pontos fortes deste território. Se já os nossos antepassados o
faziam, há tantos séculos atrás, seria insensato se não
aproveitássemos as potencialidades, encarando-as como oportunidades
para o futuro.