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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Crónica
O Caminho de Santiago de Álvaro

As evidências da existência de um Caminho de Santiago a passar pela Vila de Álvaro, outrora sede de concelho, estão à vista. A começar pelo seu orago, Santiago Maior, cuja imagem em pedra, do séc. XVIII, se situa na Igreja Matriz; passando pela influência da Ordem dos Hospitalários no território. Esta comprova-se pela simbologia da cruz de Malta gravada na pia batismal da Matriz ou da cruz de Santiago exibida na fachada da Casa dos Hospitalários, sendo estes apenas alguns dos argumentos que ligam a região às rotas seculares das peregrinações religiosas. Recorde-se que este último imóvel, por si só, é outra evidência concreta. Segundo consta, terá sido uma antiga casa de hospedagem de romeiros que iam visitar o túmulo do Apóstolo em Compostela, hoje transformada numa unidade de turismo rural.
Álvaro sempre beneficiou de boas vias de comunicação, a começar pelo rio Zêzere, assumindo outrora uma posição estratégica do ponto de vista da administração territorial. Associado a este facto, esta é uma vila cuja nobreza sempre esteve patente, ilustrada na alvura do reboco do casario, o que a coloca na categoria das Aldeias Brancas, dentro da Rede das Aldeias do Xisto. Este é um território bastante dotado de recursos e bens patrimoniais únicos, tanto no campo edificado e escultórico, como no campo natural, o que se poderá traduzir em inúmeras potencialidades que podem posicionar este destino num patamar de referência.
Por seu lado, o Caminho de Santiago é hoje um produto turístico reconhecido, ligado ao Turismo Religioso. Esta é uma marca de prestígio que atrai bastantes visitantes e turistas aos territórios por onde passam os vários Itinerários, gerando um retorno significativo na maioria dos casos.
Recorde-se que esta é uma rota milenar seguida por milhões de peregrinos desde o início do século IX, quando foi descoberto o sepulcro do Apóstolo Santiago o Maior. Desde então, pessoas das mais diversas procedências, percorrem os Caminhos que conduzem à Catedral onde se veneram as relíquias do Santo Apóstolo, dando origem a um fenómeno que se mantém e reforça de dia para dia. Para os romeiros, percorrer o Caminho de Santiago é fazer um caminho de renovação e de transformação interior, viajando ao ritmo de outros séculos.
Nesse tempo, Álvaro ficava na rota de passagem de muitos romeiros que ali aproveitavam para se albergar. Atualmente, qualquer amante do pedestrianismo tem ali várias hipóteses: dois percursos pedestres de Pequena Rota (PR1 - OLR e PR2 - OLR), um de Grande Rota (Grande Rota do Zêzere) e porque não, um troço de um Caminho de Santiago. Neste último caso, valorizado pelo facto de ser percorrido num território único, com séculos de história para desvendar e paisagens únicas classificadas pela UNESCO. As mais-valias só podem ser imensas...
N. A. - O texto foi escrito antes do incêndio que assolou aquela "Aldeia Branca (?)". Com alguma emoção, fica a homenagem a todo um património que urge recuperar.

Inês Martins
Engenheira Agrónoma