Crónica
O Caminho de Santiago de Álvaro
As evidências da existência de um
Caminho de Santiago a passar pela Vila de Álvaro, outrora sede de
concelho, estão à vista. A começar pelo seu orago, Santiago Maior,
cuja imagem em pedra, do séc. XVIII, se situa na Igreja Matriz;
passando pela influência da Ordem dos Hospitalários no território.
Esta comprova-se pela simbologia da cruz de Malta gravada na pia
batismal da Matriz ou da cruz de Santiago exibida na fachada da
Casa dos Hospitalários, sendo estes apenas alguns dos argumentos
que ligam a região às rotas seculares das peregrinações religiosas.
Recorde-se que este último imóvel, por si só, é outra evidência
concreta. Segundo consta, terá sido uma antiga casa de hospedagem
de romeiros que iam visitar o túmulo do Apóstolo em Compostela,
hoje transformada numa unidade de turismo rural.
Álvaro sempre beneficiou de boas vias de comunicação, a começar
pelo rio Zêzere, assumindo outrora uma posição estratégica do ponto
de vista da administração territorial. Associado a este facto, esta
é uma vila cuja nobreza sempre esteve patente, ilustrada na alvura
do reboco do casario, o que a coloca na categoria das Aldeias
Brancas, dentro da Rede das Aldeias do Xisto. Este é um território
bastante dotado de recursos e bens patrimoniais únicos, tanto no
campo edificado e escultórico, como no campo natural, o que se
poderá traduzir em inúmeras potencialidades que podem posicionar
este destino num patamar de referência.
Por seu lado, o Caminho de Santiago é hoje um produto turístico
reconhecido, ligado ao Turismo Religioso. Esta é uma marca de
prestígio que atrai bastantes visitantes e turistas aos territórios
por onde passam os vários Itinerários, gerando um retorno
significativo na maioria dos casos.
Recorde-se que esta é uma rota milenar seguida por milhões de
peregrinos desde o início do século IX, quando foi descoberto o
sepulcro do Apóstolo Santiago o Maior. Desde então, pessoas das
mais diversas procedências, percorrem os Caminhos que conduzem à
Catedral onde se veneram as relíquias do Santo Apóstolo, dando
origem a um fenómeno que se mantém e reforça de dia para dia. Para
os romeiros, percorrer o Caminho de Santiago é fazer um caminho de
renovação e de transformação interior, viajando ao ritmo de outros
séculos.
Nesse tempo, Álvaro ficava na rota de passagem de muitos romeiros
que ali aproveitavam para se albergar. Atualmente, qualquer amante
do pedestrianismo tem ali várias hipóteses: dois percursos
pedestres de Pequena Rota (PR1 - OLR e PR2 - OLR), um de Grande
Rota (Grande Rota do Zêzere) e porque não, um troço de um Caminho
de Santiago. Neste último caso, valorizado pelo facto de ser
percorrido num território único, com séculos de história para
desvendar e paisagens únicas classificadas pela UNESCO. As
mais-valias só podem ser imensas...
N. A. - O texto foi escrito antes do incêndio que assolou aquela
"Aldeia Branca (?)". Com alguma emoção, fica a homenagem a todo um
património que urge recuperar.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma