Editorial
A festa da Taça
O improvável aconteceu. O sorteio da
terceira eliminatória da Taça de Portugal ditou como adversário da
Associação Recreativa e Cultural de Oleiros, o Sporting Clube de
Portugal. O destino quis que a vila de Oleiros ganhasse
centralidade e Oleiros soube responder com eficácia e
eficiência.
As dúvidas sobre a realização do
jogo no Estádio Municipal de Oleiros foram sendo afastadas à medida
que os obstáculos eram ultrapassados. A autarquia, com rapidez e
rigor, respondeu às exigências da Federação Portuguesa de Futebol
para que o jogo ali se realizasse. Foram instaladas bancadas
amovíveis, retiradas as vedações, colocado um sistema de vídeo
vigilância, novos sistemas de entrada, gabinetes de imprensa, uma
sala para conferências de imprensa (situada na Residência de
Estudantes) e, como o encontro ficou agendado para a noite, um
considerável reforço da iluminação para que o jogo pudesse ser
transmitido na Sport TV.
Contas feitas, Oleiros fez o que
outros municípios não conseguiram fazer. Évora, por exemplo,
permitiu que a sua equipa fosse jogar a Lisboa para defrontar o
Futebol Clube do Porto. Nas duas semanas que antecederam o
encontro, Oleiros recebeu pressões, notícias contraditórias, que
uma relva sintética, ainda que com apenas dois jogos em cima (o
piso tinha sido substituído este ano) seria prejudicial para os
jogadores do Sporting Clube de Portugal, quando dias antes Andorra
recebeu a seleção de todos nós num piso sintético cheio de
buracos.
Neste processo cada um defendeu os
seus interesses. A comunicação social também fez o seu papel. Deu
centralidade a Oleiros e fez justiça à vila do Pinhal. E depois de
tanto investimento, do cumprir das exigências e de tanto querer das
gentes de Oleiros seria injusto que a Federação não aprovasse o
estádio para a realização do encontro. A aprovação chegou, depois
de vários testes. E o jogo fez-se.
As notícias de que o Sporting não
queria jogar em Oleiros, deram lugar a outras em que o clube de
Alvalade era parte da solução e até abdicava, de forma nobre, das
receitas que lhe cabiam neste jogo, para os Bombeiros Voluntários
de Oleiros. A direção do Sporting foi recebida nos Paços do
Concelho. Bruno de Carvalho entregou, perante os órgãos autárquicos
e o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares (também
presidente da Assembleia Geral do Sporting) aos Bombeiros e à
autarquia camisolas assinadas por todo o plantel leonino, para que
se assim o entenderem as leiloarem.
Nas ruas, as conversas e as
dúvidas, deram lugar à festa da Taça. Porque a Taça de Portugal é
isto. É permitir que os grandes se possam deslocar ao terreno dos
pequenos. Houve festa no campo e houve festa fora dele, com as
bifanas, as bebidas fresquinhas, um ecrã gigante e música até
tarde.
Oleiros conseguiu dar resposta aos
anseios da população. E o ambiente não podia ser melhor. Gritou-se
ARCO. Gritou-se Sporting. Respirou-se civismo. Oleiros deve ser
visto como um bom exemplo de que não há impossíveis e de como o
futebol pode unir divergências clubísticas e políticas. De como a
festa da Taça pode dar alento e ânimo às populações mais afastadas
dos grandes centros.
O momento foi histórico. Fica na
história do concelho. Mas deve ficar também na história do futebol
português, como um exemplo eficaz de como é possível tornar os
sonhos em realidade. E até dentro do campo houve golos para as duas
equipas.