Opinião
Pinhal com futuro
A nossa maior riqueza é a floresta de pinho, a qual
se regenera naturalmente (enquanto não for destruído o seu banco de
sementes). Mas será que a estamos a aproveitar da melhor forma?
Como se sabe, se quisermos ser
competitivos no setor primário, temos de apostar numa eficiente
afetação dos recursos. Mas será que é isso que está a ser
feito?
Reportemo-nos ao Pinhal que dá o
nome à região onde nos inserimos e que representa a maior mancha
contínua de pinho bravo da Europa. Será que o estamos a gerir
bem?
Uma boa gestão florestal pretende
maximizar o rendimento de uma forma continuada, através de
intervenções adequadas, no tempo e no espaço, que favoreçam o
crescimento das árvores e aumentem a produtividade da floresta,
valorizando-a. Esta é a única forma de gerir sustentavelmente:
satisfazendo as necessidades das gerações atuais, sem inviabilizar
a possibilidade das gerações futuras poderem fazer o mesmo.
A ocorrência do incêndio de 2003
veio comprometer o fornecimento sustentado de matéria-prima
endógena às nossas indústrias transformadoras ligadas ao setor
florestal, as quais atualmente têm de trazer madeira de outras
regiões do país e até do mundo.
A agravar este facto, a regeneração
natural ocorrida no período pós-incêndio não foi devidamente gerida
pelos proprietários, o que deu origem a uma floresta excessivamente
densa e vulnerável, graças à inexistência, na maioria dos casos, de
um benéfico primeiro desbaste, o que a tornou inviável para algumas
utilizações.
Este é o panorama da maior parte do
nosso pinhal, caracterizado por um sistema produtivo de alta
densidade, onde não se efetuou o desbaste potenciador de
crescimentos sustentáveis, da rentabilidade das árvores e da
própria proteção do povoamento.
Segundo as boas práticas
florestais, qualquer desbaste melhora a qualidade do pinhal para
que na altura do corte final se obtenham árvores de elevada
qualidade e mais valorizadas, com crescimentos que garantam a sua
rentabilidade e sirvam as mais nobres utilizações.
Com este desbaste, que em muitas
parcelas já deveria ter sido feito, pretende-se diminuir a
densidade do povoamento e assim, a competição entre árvores.
Através desta seleção estamos a eliminar os piores indivíduos
(mortos, com as pontas secas, bifurcados, mal conformados ou
raquíticos) e a rentabilizar os melhores, o que só vem valorizar o
pinhal no seu todo.
Sabendo que uma árvore imperfeita
origina futuramente um indivíduo defeituoso e consequentemente mais
barato, para que o Pinhal seja rentável devem seguir-se práticas
sustentáveis. Só assim conseguiremos maximizar rendimentos de uma
forma contínua, favorecendo o aumento da produtividade futura da
floresta e a sua tão necessária valorização.
Se pensarmos e agirmos desta forma,
desbastando o nosso pinhal que atualmente parece capim e representa
um autêntico "barril de pólvora", podemos voltar a ter uma floresta
viável e segura. Por outro lado, esta é a única de forma de
voltarmos a abastecer as nossas indústrias com a matéria-prima que
têm à porta, sem terem de se abastecer noutros locais, com os
inevitáveis encargos que isso onera atualmente. Seria bom para
todos.
Sintetizando, se nada for feito no
imediato continuará a haver um desperdício de recursos e de
potencial rendimento para os proprietários. Já a médio prazo, as
serrações continuarão a ter de ir buscar longe o que têm perto, mas
que estando mal gerido, não poderão aproveitar.
Fomentando estas boas práticas
florestais junto dos proprietários privados, consegue-se viabilizar
o futuro do setor no concelho, continuando a garantir postos de
trabalho (diretos e indiretos) na região. Do mesmo modo, promove-se
a reafectação dos recursos (sob a forma de exploração para
pelletes, postes, aglomerados ou serração, entre outros), a qual
poderá contribuir para amortizar o investimento dos produtores.
Concluindo, é urgente uma reflexão
em torno deste assunto, equacionando os ganhos que se obtêm quer da
utilização racional da regeneração natural, quer do aumento da
rentabilidade das árvores na altura do corte final.
A solução passa pela gestão: uma
gestão sustentável a pensar na valorização futura dos recursos e no
aumento da produtividade do setor. Desta forma os proprietários
assumem-se de uma vez por todas como "produtores" e não apenas como
"coletores", garantindo o futuro do nosso Pinhal.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma