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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Opinião
Pinhal com futuro

ines copy.jpgA nossa maior riqueza é a floresta de pinho, a qual se regenera naturalmente (enquanto não for destruído o seu banco de sementes). Mas será que a estamos a aproveitar da melhor forma?

Como se sabe, se quisermos ser competitivos no setor primário, temos de apostar numa eficiente afetação dos recursos. Mas será que é isso que está a ser feito?

Reportemo-nos ao Pinhal que dá o nome à região onde nos inserimos e que representa a maior mancha contínua de pinho bravo da Europa. Será que o estamos a gerir bem?

Uma boa gestão florestal pretende maximizar o rendimento de uma forma continuada, através de intervenções adequadas, no tempo e no espaço, que favoreçam o crescimento das árvores e aumentem a produtividade da floresta, valorizando-a. Esta é a única forma de gerir sustentavelmente: satisfazendo as necessidades das gerações atuais, sem inviabilizar a possibilidade das gerações futuras poderem fazer o mesmo.

A ocorrência do incêndio de 2003 veio comprometer o fornecimento sustentado de matéria-prima endógena às nossas indústrias transformadoras ligadas ao setor florestal, as quais atualmente têm de trazer madeira de outras regiões do país e até do mundo.

A agravar este facto, a regeneração natural ocorrida no período pós-incêndio não foi devidamente gerida pelos proprietários, o que deu origem a uma floresta excessivamente densa e vulnerável, graças à inexistência, na maioria dos casos, de um benéfico primeiro desbaste, o que a tornou inviável para algumas utilizações.

Este é o panorama da maior parte do nosso pinhal, caracterizado por um sistema produtivo de alta densidade, onde não se efetuou o desbaste potenciador de crescimentos sustentáveis, da rentabilidade das árvores e da própria proteção do povoamento.

Segundo as boas práticas florestais, qualquer desbaste melhora a qualidade do pinhal para que na altura do corte final se obtenham árvores de elevada qualidade e mais valorizadas, com crescimentos que garantam a sua rentabilidade e sirvam as mais nobres utilizações.

Com este desbaste, que em muitas parcelas já deveria ter sido feito, pretende-se diminuir a densidade do povoamento e assim, a competição entre árvores. Através desta seleção estamos a eliminar os piores indivíduos (mortos, com as pontas secas, bifurcados, mal conformados ou raquíticos) e a rentabilizar os melhores, o que só vem valorizar o pinhal no seu todo.

Sabendo que uma árvore imperfeita origina futuramente um indivíduo defeituoso e consequentemente mais barato, para que o Pinhal seja rentável devem seguir-se práticas sustentáveis. Só assim conseguiremos maximizar rendimentos de uma forma contínua, favorecendo o aumento da produtividade futura da floresta e a sua tão necessária valorização.

Se pensarmos e agirmos desta forma, desbastando o nosso pinhal que atualmente parece capim e representa um autêntico "barril de pólvora", podemos voltar a ter uma floresta viável e segura. Por outro lado, esta é a única de forma de voltarmos a abastecer as nossas indústrias com a matéria-prima que têm à porta, sem terem de se abastecer noutros locais, com os inevitáveis encargos que isso onera atualmente. Seria bom para todos.

Sintetizando, se nada for feito no imediato continuará a haver um desperdício de recursos e de potencial rendimento para os proprietários. Já a médio prazo, as serrações continuarão a ter de ir buscar longe o que têm perto, mas que estando mal gerido, não poderão aproveitar.

Fomentando estas boas práticas florestais junto dos proprietários privados, consegue-se viabilizar o futuro do setor no concelho, continuando a garantir postos de trabalho (diretos e indiretos) na região. Do mesmo modo, promove-se a reafectação dos recursos (sob a forma de exploração para pelletes, postes, aglomerados ou serração, entre outros), a qual poderá contribuir para amortizar o investimento dos produtores.

Concluindo, é urgente uma reflexão em torno deste assunto, equacionando os ganhos que se obtêm quer da utilização racional da regeneração natural, quer do aumento da rentabilidade das árvores na altura do corte final.

A solução passa pela gestão: uma gestão sustentável a pensar na valorização futura dos recursos e no aumento da produtividade do setor. Desta forma os proprietários assumem-se de uma vez por todas como "produtores" e não apenas como "coletores", garantindo o futuro do nosso Pinhal.

Inês Martins
Engenheira Agrónoma