Steiff pode fechar, alemães escolhem Tunísia
O presidente da Câmara de Oleiros, José Marques, manifestou-se
contra a possibilidade de a empresa alemã Steiff encerrar a fábrica
de bonecos de peluche que funciona em Portugal e transferir a
produção para a Tunísia.
A pouco menos de uma semana da visita da chanceler alemã Angela
Merkel a Portugal, o autarca pede a intervenção da líder para
travar a "ganância" da nova administração da Steiff.
José Marques recorda o episódio em que Merkel foi fotografada a
oferecer um peluche da marca ao presidente Sarkozy por altura do
nascimento da filha do líder francês.
Agora, o apelo a Merkel vai no sentido de que "chame a atenção
para a administração da empresa", que dá emprego a 103 pessoas,
quase na totalidade mulheres, e cujo encerramento seria "uma
tragédia" para o concelho de Oleiros, dada a escassez de emprego,
destacou.
A deslocalização da marca que há mais de um século criou o
primeiro boneco de peluche do mundo é considerada pelo autarca
"inadmissível" numa altura em que "a Alemanha diz estar pronta para
ajudar [Portugal]: não se vê isso aqui".
José Marques classifica o cenário como "incompreensível" porque
a unidade "dá lucro" e "as anteriores administrações têm dito", ao
longo dos 20 anos de funcionamento da fábrica, que a qualidade dá
vantagem a Portugal em relação a países com mão-de-obra mais
barata.
A "prova dessa qualidade" é que ainda este ano foram fabricados
em Oleiros 10 mil peluches encomendados para as comemorações do
Jubileu de Diamante da Rainha Isabel II de Inglaterra,
sublinhou.
Em Oleiros nascem mais de 100 mil bonecos por ano e, apesar da
crise, as encomendas "continuam a crescer", sendo que muitos dos
peluches "são peças de coleção, topo de gama".
Os preços de cada podem variar entre os 200 e os mil euros, dos
mais variados tamanhos.
Graças ao apoio do município, a marca alemã não paga renda pelos
dois pavilhões da autarquia que ocupa na zona industrial de
Oleiros, nem paga derrama, de que a câmara isentou todas as
empresas do concelho.
A administração da Steiff já recebeu garantias de apoios
financeiros adicionais por parte do Ministério da Economia, numa
reunião apadrinhada pelo autarca, mas "mesmo assim" há "uma vontade
de até fevereiro ou março quererem encerrar as portas em Portugal",
lamentou José Marques.
"Nesta empresa a palavra-chave é qualidade e só a ganância de
ganhar mais dinheiro pode justificar a mudança", acrescentou,
referindo que a unidade de Oleiros "dá garantias" que a fábrica da
Steiff na Tunísia "não dá".
A agência Lusa tentou obter um comentário por parte da
administração ou outros responsáveis da fábrica em Oleiros, mas
ninguém se manifestou disponível para prestar esclarecimentos.
Odete Dias está na fábrica desde o primeiro dia e mostra-se
incrédula com a possibilidade de transferência para a Tunísia dos
bonecos de peluche, de que já conhece cada pormenor e que, de
tantos cozer, aprendeu a acarinhar.
Para Mónica Ferreira, funcionária administrativa, o problema é
que "ninguém comunica" com os trabalhadores: "o gerente vem a
Portugal, fala com os advogados, mas ninguém diz nada".
Esta trabalhadora também se mostra intrigada com a possibilidade
de encerramento: "há encomendas e os clientes estão satisfeitos com
a qualidade", conclui.