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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Steiff pode fechar, alemães escolhem Tunísia

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O presidente da Câmara de Oleiros, José Marques, manifestou-se contra a possibilidade de a empresa alemã Steiff encerrar a fábrica de bonecos de peluche que funciona em Portugal e transferir a produção para a Tunísia.

A pouco menos de uma semana da visita da chanceler alemã Angela Merkel a Portugal, o autarca pede a intervenção da líder para travar a "ganância" da nova administração da Steiff.

José Marques recorda o episódio em que Merkel foi fotografada a oferecer um peluche da marca ao presidente Sarkozy por altura do nascimento da filha do líder francês.

Agora, o apelo a Merkel vai no sentido de que "chame a atenção para a administração da empresa", que dá emprego a 103 pessoas, quase na totalidade mulheres, e cujo encerramento seria "uma tragédia" para o concelho de Oleiros, dada a escassez de emprego, destacou.

A deslocalização da marca que há mais de um século criou o primeiro boneco de peluche do mundo é considerada pelo autarca "inadmissível" numa altura em que "a Alemanha diz estar pronta para ajudar [Portugal]: não se vê isso aqui".

José Marques classifica o cenário como "incompreensível" porque a unidade "dá lucro" e "as anteriores administrações têm dito", ao longo dos 20 anos de funcionamento da fábrica, que a qualidade dá vantagem a Portugal em relação a países com mão-de-obra mais barata.

A "prova dessa qualidade" é que ainda este ano foram fabricados em Oleiros 10 mil peluches encomendados para as comemorações do Jubileu de Diamante da Rainha Isabel II de Inglaterra, sublinhou.

Em Oleiros nascem mais de 100 mil bonecos por ano e, apesar da crise, as encomendas "continuam a crescer", sendo que muitos dos peluches "são peças de coleção, topo de gama".

Os preços de cada podem variar entre os 200 e os mil euros, dos mais variados tamanhos.

Graças ao apoio do município, a marca alemã não paga renda pelos dois pavilhões da autarquia que ocupa na zona industrial de Oleiros, nem paga derrama, de que a câmara isentou todas as empresas do concelho.

A administração da Steiff já recebeu garantias de apoios financeiros adicionais por parte do Ministério da Economia, numa reunião apadrinhada pelo autarca, mas "mesmo assim" há "uma vontade de até fevereiro ou março quererem encerrar as portas em Portugal", lamentou José Marques.

"Nesta empresa a palavra-chave é qualidade e só a ganância de ganhar mais dinheiro pode justificar a mudança", acrescentou, referindo que a unidade de Oleiros "dá garantias" que a fábrica da Steiff na Tunísia "não dá".

A agência Lusa tentou obter um comentário por parte da administração ou outros responsáveis da fábrica em Oleiros, mas ninguém se manifestou disponível para prestar esclarecimentos.

Odete Dias está na fábrica desde o primeiro dia e mostra-se incrédula com a possibilidade de transferência para a Tunísia dos bonecos de peluche, de que já conhece cada pormenor e que, de tantos cozer, aprendeu a acarinhar.

Para Mónica Ferreira, funcionária administrativa, o problema é que "ninguém comunica" com os trabalhadores: "o gerente vem a Portugal, fala com os advogados, mas ninguém diz nada".

Esta trabalhadora também se mostra intrigada com a possibilidade de encerramento: "há encomendas e os clientes estão satisfeitos com a qualidade", conclui.

 

Lusa