João Bártolo fez o “render da guarda”
O homem que colocou o vento a dar energia em Oleiros
Nos últimos 21 anos, João
Bártolo, com raízes no concelho de Oleiros, assumiu as funções de
presidente do Conselho de Administração da Generg. Este ano deixou
o cargo. Diz que aos 78 anos chegou o momento do "render da
guarda.
Natural de Proença-a-Nova, onde nasceu em outubro de 1938, João
Bártolo foi um dos um grandes impulsionadores da implementação de
energias renováveis no país. No concelho de Oleiros deve-se-lhe o
maior investimento de sempre nas energias eólicas, com a construção
do Parque Eólico do Pinhal Interior Sul. Uma aposta que mudou
significativamente o modo de como a população olhava para as
energias limpas, com claras vantagens para o ambiente, para os
proprietários dos terrenos e para as autarquias.
"Sinto-me muito feliz por este percurso na Generg. Foram anos
exaltantes em que fizemos muitas coisas boas. As energias
renováveis deram um salto muito grande. A Generg, que na altura era
uma empresa pequenina, ganhou um protagonismo no setor", recordou
ao Oleiros Magazine.
Ao nosso jornal, numa entrevista realizada há já alguns anos,
lembrou a importância de ser beirão, na hora da escolha dos locais
para investir na energia eólica. Isso permitiu que Oleiros e a
região fossem vistos como um território estratégico para a produção
de energia eólica: "o bom conhecimento dum mercado, como dum espaço
físico, duma região, duma população, são, em todas as atividades
económicas, uma decisiva vantagem. Sendo beirão conhecia muito bem
a região e as suas gentes e autarcas. Um projeto como aquele que
vimos conduzindo é bem mais que um projeto empresarial, é um
projeto com ambições de promover o desenvolvimento a uma escala
regional. Ora isto só se consegue se às competências empresariais
juntarmos a vontade dos autarcas e o bom acolhimento das
populações. E foi tudo isto que, no caso do nosso grande projeto
para a Beira Baixa, pensámos e conseguimos em conjunto".
Durante este percurso de 21 anos em que esteve à frente da Generg,
João Bártolo manteve com a região que o viu nascer uma relação
próxima e solidária. Não foi só o concelho de Oleiros que
beneficiou desta estratégia. Também o distrito de Castelo Branco
passou a ser referência na produção de energia limpa. A criação dos
parques eólicos no distrito são um bom exemplo, os quais abriram
novas oportunidades às populações e ao território. Hoje o distrito
de Castelo Branco é, dentro do portfolio da Generg, o que produz
mais energia eólica com os parques do Pinhal Interior (144 MW) e da
Gardunha (114MW).
João Bártolo recordou que a Generg "apoiou o desenvolvimento
regional, cumprindo a sua carta de missão. As populações do
interior foram muito beneficiadas com esta nossa postura. Foi a
partir do investimento da Generg que os parques eólicos começaram a
surgir nessas regiões, as quais não tinham estruturas, como linhas
de alta tensão. Seria mais fácil no litoral, onde não se teria que
investir nesse tipo de linhas".
O ex-CEO da Generg recorda que na época, no interior do país, "não
havia indústria porque não havia energia e não ia para lá a energia
porque não havia indústria". Significa que havia um ciclo vicioso.
"Depois dos nossos investimentos, a Beira Baixa converteu-se num
exportador líquido de energia limpa, entre o que ia buscar à EDP e
o que lhe entregava. Cerca de 50 por cento da energia aqui
produzida é exportada para o país", explicou.
Estes 21 anos permitiram, diz João Bártolo, "que fosse aproveitado
o saber existente no sistema tecnológico em Portugal. As
universidades e politécnicos tinham um conjunto de pessoas muito
habilitadas neste setor, que estavam à espera de um ator
empresarial que colocasse em prática esse saber".
Hoje, diz que o setor das energias renováveis transformou-se numa
grande industria nacional. "Quando começámos a trabalhar o
investimento representava apenas 10 por cento de valor acrescentado
no país, hoje é de 90 por cento. Isso foi possível porque se criou
um cluster industrial que depois da Autoeuropa foi o mais
importante que se criou nas últimas décadas em Portugal, com cerca
de cinco mil postos de trabalho ligados à atividade".
Sobre a Generg, João Bártolo destaca o facto de "estar
internacionalizada. Temos parques em Espanha, França, Itália ou
Polónia. De uma pequena empresa teve um trajeto que me deu grande
satisfação com uma equipa muito boa que existe lá na casa".
CARA DA NOTÍCIA
João Bártolo,
solidário com
o concelho
João Bártolo ficou associado ao desenvolvimento da energia eólica
no nosso país. Na região, em particular, em Oleiros, permitiu a
realização de investimentos que mudaram o panorama regional. Esta
perspetiva de gestor perspicaz foi alargada à perspetiva de homem
solidário. A Oleiros, da sua biblioteca pessoal, ofereceu à
Biblioteca Municipal milhares de títulos. Assegura ter sido
movido, "pela esperança de que algo pudesse acrescentar - por
modesto que fosse - ao alimento cultural das gentes da região onde
mergulham as minhas raízes". E acrescentou: "sou incapaz de deitar
um livro para o lixo e de cortar uma árvore. Deste modo foi dado um
sentido útil a uma parte da minha biblioteca de onde, de vez em
quando, tirava um livro para ler".
Com duas licenciaturas em Engenharia de Minas e em Química
Industrial, ambas pelo Instituto Superior Técnico, João Bártolo
desempenhou funções em diferentes entidades. Foi administrador da
IPE - Águas de Portugal (1994-1996), presidente da EPAL - Empresa
Portuguesa das Águas Livres, SA (1994-1996), presidente da FUNDIÇÃO
DE OEIRAS, SA (1996-1999), administrador da SOMAGUE AMBIENTE
(1997-1999), e do IPE- Estudos e Projectos Internacionais, entre
muitos outros cargos.
Ao nível académico fez, entre outras, uma pós-graduação na
Business School (S.E.P.) - STANFORD UNIVERSITY - USA (1986), e
cursos de Organização de Trabalho INII - OIT (1959); e de
Especialização em Engenharia Sanitária - UNIVERSIDADE NOVA (1976).
também foi docente no Instituto Superior Técnico. Mas foi na gestão
que se destacou. "Desde muito cedo me interessei pela organização
empresarial, sociologia, economia, gestão, disciplinas aliás
essenciais no mundo empresarial em que a engenharia se exerce.
Penso que essa preparação acabou por determinar e marcar o meu
trajeto profissional nas organizações por que passei", chegou a
referir.