Crónica
A árvore que deve o seu nome ao rio
A árvore do momento: o Azereiro, uma das relíquias
da floresta Laurissilva que resistiu às últimas glaciações,
encontra a maior concentração da Europa de indivíduos desta espécie
em Oleiros. Estes exemplares que habitam o Vale do Zêzere, a norte
do concelho, representam verdadeiros fósseis vivos da floresta que
existiu há milhões de anos. Podemos encontrar estes autênticos
monumentos naturais na Mata d´Álvaro ou no Vale das Fragosas, junto
às cascatas da Fraga da Água d´Alta (ou d´Alto).
Mas o aspeto curioso que gostaria
de realçar sobre esta espécie autóctone e rara, prende-se com a sua
ligação ao nome do rio Zêzere, cujo étimo parece vir de
"zezereiro", "zenzereiro" ou "azereiro". Recorde-se que a espécie
Prunus lusitanica corresponde a uma árvore de pequenas flores
brancas e frutos negros que abundava nas margens deste rio
exclusivamente português, facto que provavelmente se correlaciona
com o seu hidrónimo.
Em 1629, Miguel Leitão de
Andrade, descendente da mais antiga e nobre família de Álvaro, a
propósito do rio, escrevia "…chamando-se Ozeraco e agora Zênzere…"
, o que nos dá uma hipótese para a evolução do nome do rio e nos
faz deduzir que do séc. XVII até aos dias de hoje o nome do rio
tenha ainda evoluído de "Zênzere" para "Zêzere".
O mesmo autor, referindo-se à
árvore em causa, escrevia "…o zenzereiro, árvore a quem o rio deu o
nome, por se criar somente nelle grande copado, de folhas muito
verdes de feição de louro, cujas flores são brancas, e de feição de
cacho de uva em flor…". Neste trecho da obra de Leitão de Andrade,
é sugerido que foi o rio que deu o nome comum à árvore, a qual era
abundante nas suas margens e encostas.
Esta tese é também defendida em
1881, pelo oleirense D. João Maria Pimentel, autor do livro
Memórias da villa de Oleiros e do seu concelho. Pimentel referia na
sua obra que "são próprias das encostas d´este Rio, do qual derivão
provavelmente o nome as árvores chamadas azereiros, bellas pela sua
forma redonda e copada, sem nunca perderem a folha, e agradáveis
pelo aroma de seus abundantes caixos de flores
brancas".
A origem do nome do rio e da
árvore não é um tema consensual. Existem várias teses que defendem
que foi a árvore que deu origem ao nome do rio. Fica-nos a dúvida:
"quem" deu o nome a "quem"? Certo é que há uma indubitável ligação
entre o nome comum da espécie e o nome do rio.
Inês Martins (Engenheira Agrónoma)