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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Dieta Mediterrânica
Um património precioso

ines copy.jpgPortugal conquistou no passado dia 4 de dezembro, a sua segunda inscrição, depois do Fado, na lista do Património Imaterial da Humanidade. A candidatura da Dieta Mediterrânica foi partilhada com outros seis países como Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia, tendo sido aprovada em Assembleia Geral da UNESCO, por unanimidade e em menos de 2 minutos.

Mas o que é a dieta mediterrânica, afinal?

Trata-se de uma dieta alimentar comum a alguns países do Mediterrâneo e que se caracteriza principalmente pelo consumo de azeite, mas também de cereais, fruta fresca, frutos secos e vegetais, uma quantidade moderada de peixes, lacticínios e carne, muitos condimentos e especiarias, tudo acompanhado por vinho ou infusões, sempre respeitando as crenças de cada comunidade.

A dieta mediterrânea abrange muito mais que a alimentação, é um modo de vida e agora, com esta distinção, ganha ainda mais notoriedade. Este é um património cada vez mais reconhecido e valorizado e que pode potenciar o desenvolvimento do setor agroalimentar e turístico dos territórios que têm a sorte de o ter inscrito na sua matriz cultural.

Focando-nos no seu bem patrimonial mais emblemático, o azeite: nos últimos anos, o setor olivícola português viu o seu potencial produtivo intensamente promovido e subsidiado. Como se sabe, o país beneficia de condições edafoclimáticas diferenciadoras que dão origem a um produto de excelência e cada vez mais reconhecido nos mercados mais exigentes. Veja-se o caso do opinion-maker inglês no campo da gastronomia, Jamie Oliver, o qual não se tem cansado de promover o azeite português, caraterizando-o como o mais puro de todos e detentor de excelente qualidade. Permitam- -me que acrescente que a esse nível, o azeite de Oleiros se destaca dos demais, quando analisado laboratorialmente. Este começa a ser reconhecido como um produto genuíno e detentor de elevado grau de pureza, o que se reflete nas suas caraterísticas organoléticas, diferenciando-o dos restantes azeites portugueses.

21.jpgEm Portugal, devido à tomada de consciência do nosso potencial competitivo e da elevada rentabilidade deste setor, ao longo dos últimos anos assistimos a diversos investimentos, não só ao nível da plantação, do adensamento e da rega dos olivais, mas também da construção e ampliação dos lagares. Os investimentos realizados levaram ao aumento de produção de azeitona e ao consequente aumento da produção de azeite. Prevê-se para os próximos anos um aumento significativo da oferta, por via da entrada em produção dos novos olivais plantados e da intensificação da produção naqueles onde se efetuaram adensamentos e instalações de rega.

Por outro lado, as exportações portuguesas de azeite aumentaram nos últimos anos, uma tendência que se mantém para o futuro. Se considerarmos o aumento de produção que se perspetiva, constata-se que teremos de aumentar ainda mais a exportação dos nossos azeites, sob pena de virmos a sofrer um excesso de oferta no mercado nacional, o que pode colocar em risco o sucesso dos avultados investimentos efetuados no setor.

Analisando os mercados que verificam maior consumo de azeite e dentro destes, se considerarmos apenas os que não são produtores (recorrendo inteiramente à importação para fazer face às suas necessidades) e os que produzem bastante menos azeite do que aquele que consomem, constata-se que os mercados mais interessantes serão os EUA, a França, o Reino Unido, a Alemanha, o Brasil, a Austrália, o Canadá e o Japão e a Itália.

Para além dos países acima mencionados, acresce referir outros de interesse relevante para a exportação de azeite português, facto atestado nos últimos registos de exportação, por via das nossas comunidades de emigrantes e história colonial. Países como a Suíça, o Benelux, Venezuela, Angola, Moçambique e Cabo Verde, representam outra importante janela de oportunidades.

Em termos estratégicos, se avaliarmos o desempenho dos nossos principais concorrentes exportadores, como a Espanha, por exemplo, verificamos que estes optaram por associar os seus produtores e abordar os diversos mercados em conjunto, apresentando-se de uma forma integrada, sem que com isso deixassem de efetuar as suas apostas individuais em marca e de conseguir apresentar ao mercado os fatores que os diferenciam da concorrência.

A estratégia de apresentação dos Azeites de Portugal aos mercados internacionais, efetuada de forma conjunta, tem a mais-valia de minimizar os custos de acesso a esses mercados, ao mesmo tempo que transmite aos potenciais clientes uma maior confiança quanto à dimensão e diversidade do setor dos azeites portugueses.

Concluindo, Portugal possui condições produtivas e enormes oportunidades de comercialização para o azeite. Quanto mais rápido concertarmos uma verdadeira estratégia nacional que permita fortalecer a imagem do produto nos mercados internacionais, mais rápido iremos promover a sua exportação.

No caso particular do azeite de Oleiros, possuímos um produto muito bem posicionado, o qual começa a ser procurado por estrangeiros e ao qual se associam inúmeros benefícios para a saúde, veja-se caso da descoberta das suas características anticancerígenas. Será fundamental começarmos a encarar um setor que sempre fez parte da nossa matriz cultural como uma oportunidade para o futuro.

Por outro lado, sendo este produto um dos principais constituintes de uma dieta mediterrânica, o azeite português, assim como outros produtos nacionais, só têm a ganhar com a recente distinção da UNESCO, a qual vem valorizar a nossa identidade cultural e pode fomentar o desenvolvimento dos clusters agroalimentar e turístico.

Inês Martins
Engenheira Agrónoma