Dieta Mediterrânica
Um património precioso
Portugal conquistou no passado dia 4 de dezembro, a
sua segunda inscrição, depois do Fado, na lista do Património
Imaterial da Humanidade. A candidatura da Dieta Mediterrânica foi
partilhada com outros seis países como Espanha, Marrocos, Itália,
Grécia, Chipre e Croácia, tendo sido aprovada em Assembleia Geral
da UNESCO, por unanimidade e em menos de 2 minutos.
Mas o que é a dieta mediterrânica,
afinal?
Trata-se de uma dieta alimentar
comum a alguns países do Mediterrâneo e que se caracteriza
principalmente pelo consumo de azeite, mas também de cereais, fruta
fresca, frutos secos e vegetais, uma quantidade moderada de peixes,
lacticínios e carne, muitos condimentos e especiarias, tudo
acompanhado por vinho ou infusões, sempre respeitando as crenças de
cada comunidade.
A dieta mediterrânea abrange muito
mais que a alimentação, é um modo de vida e agora, com esta
distinção, ganha ainda mais notoriedade. Este é um património cada
vez mais reconhecido e valorizado e que pode potenciar o
desenvolvimento do setor agroalimentar e turístico dos territórios
que têm a sorte de o ter inscrito na sua matriz cultural.
Focando-nos no seu bem patrimonial
mais emblemático, o azeite: nos últimos anos, o setor olivícola
português viu o seu potencial produtivo intensamente promovido e
subsidiado. Como se sabe, o país beneficia de condições
edafoclimáticas diferenciadoras que dão origem a um produto de
excelência e cada vez mais reconhecido nos mercados mais exigentes.
Veja-se o caso do opinion-maker inglês no campo da gastronomia,
Jamie Oliver, o qual não se tem cansado de promover o azeite
português, caraterizando-o como o mais puro de todos e detentor de
excelente qualidade. Permitam- -me que acrescente que a esse nível,
o azeite de Oleiros se destaca dos demais, quando analisado
laboratorialmente. Este começa a ser reconhecido como um produto
genuíno e detentor de elevado grau de pureza, o que se reflete nas
suas caraterísticas organoléticas, diferenciando-o dos restantes
azeites portugueses.
Em Portugal, devido à tomada de consciência do nosso
potencial competitivo e da elevada rentabilidade deste setor, ao
longo dos últimos anos assistimos a diversos investimentos, não só
ao nível da plantação, do adensamento e da rega dos olivais, mas
também da construção e ampliação dos lagares. Os investimentos
realizados levaram ao aumento de produção de azeitona e ao
consequente aumento da produção de azeite. Prevê-se para os
próximos anos um aumento significativo da oferta, por via da
entrada em produção dos novos olivais plantados e da intensificação
da produção naqueles onde se efetuaram adensamentos e instalações
de rega.
Por outro lado, as exportações
portuguesas de azeite aumentaram nos últimos anos, uma tendência
que se mantém para o futuro. Se considerarmos o aumento de produção
que se perspetiva, constata-se que teremos de aumentar ainda mais a
exportação dos nossos azeites, sob pena de virmos a sofrer um
excesso de oferta no mercado nacional, o que pode colocar em risco
o sucesso dos avultados investimentos efetuados no setor.
Analisando os mercados que
verificam maior consumo de azeite e dentro destes, se considerarmos
apenas os que não são produtores (recorrendo inteiramente à
importação para fazer face às suas necessidades) e os que produzem
bastante menos azeite do que aquele que consomem, constata-se que
os mercados mais interessantes serão os EUA, a França, o Reino
Unido, a Alemanha, o Brasil, a Austrália, o Canadá e o Japão e a
Itália.
Para além dos países acima
mencionados, acresce referir outros de interesse relevante para a
exportação de azeite português, facto atestado nos últimos registos
de exportação, por via das nossas comunidades de emigrantes e
história colonial. Países como a Suíça, o Benelux, Venezuela,
Angola, Moçambique e Cabo Verde, representam outra importante
janela de oportunidades.
Em termos estratégicos, se
avaliarmos o desempenho dos nossos principais concorrentes
exportadores, como a Espanha, por exemplo, verificamos que estes
optaram por associar os seus produtores e abordar os diversos
mercados em conjunto, apresentando-se de uma forma integrada, sem
que com isso deixassem de efetuar as suas apostas individuais em
marca e de conseguir apresentar ao mercado os fatores que os
diferenciam da concorrência.
A estratégia de apresentação dos
Azeites de Portugal aos mercados internacionais, efetuada de forma
conjunta, tem a mais-valia de minimizar os custos de acesso a esses
mercados, ao mesmo tempo que transmite aos potenciais clientes uma
maior confiança quanto à dimensão e diversidade do setor dos
azeites portugueses.
Concluindo, Portugal possui
condições produtivas e enormes oportunidades de comercialização
para o azeite. Quanto mais rápido concertarmos uma verdadeira
estratégia nacional que permita fortalecer a imagem do produto nos
mercados internacionais, mais rápido iremos promover a sua
exportação.
No caso particular do azeite de
Oleiros, possuímos um produto muito bem posicionado, o qual começa
a ser procurado por estrangeiros e ao qual se associam inúmeros
benefícios para a saúde, veja-se caso da descoberta das suas
características anticancerígenas. Será fundamental começarmos a
encarar um setor que sempre fez parte da nossa matriz cultural como
uma oportunidade para o futuro.
Por outro lado, sendo este produto
um dos principais constituintes de uma dieta mediterrânica, o
azeite português, assim como outros produtos nacionais, só têm a
ganhar com a recente distinção da UNESCO, a qual vem valorizar a
nossa identidade cultural e pode fomentar o desenvolvimento dos
clusters agroalimentar e turístico.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma