Pedro Abrunhosa em entrevista
O espectáculo não pode parar
Pedro Abrunhosa & O Comité Caviar são cabeça de
cartaz do Dia do Concelho. Em entrevista, o autor de temas tão
carismáticos como "Momento", "Não Desistas de Mim", ou "Fazer
o que Ainda não foi Feito" afirma que a arte é ousadia e fala
do papel que as autarquias e as Comissões de Festas têm tido na
divulgação da música e da cultura, no interior do país. Também
defende que independentemente dos cortes financeiros que o país
venha a sofrer, nunca como agora foi tão actual a expressão «o
espectáculo vai
continuar».
As Festas das localidades são das poucas formas de
trazer a cultura para o Interior do País?
É um trabalho notável que as Câmaras fazem com as
festas das cidades e das vilas. Da nossa parte fazemos tudo para
viabilizar esses espectáculos, atendendo a que estrutura não é
fácil. Adaptamo-nos, somos camaleónicos nesse aspecto, para não
inviabilizar o levar a cultura ao interior do país. Se não for
assim, se não for por este papel que as associações de bairro, as
comissões de festas, as vereações de Câmara fazem, se não for por
isso, realmente o zero vírgula três ou dois por cento, que o
orçamento de estado tem para a cultura, não é possível. Mas estes
concertos também têm a vertente de atrair muito público, há uma
mais valia que também trazem. Portanto, fica toda a gente a
ganhar.
Com o clima económico que atravessamos as autarquias
poderão fazer cortes que afectarão mais a cultura e os espectáculos
de música?
É uma das grandes preocupações. Mas gostaria de
não centrar este fenómeno, na cultura e na música. Já é um
problema, sempre foi um problema, porque sempre foi aqui que se
cortou, portanto mais cortes será drástico. Mas, temos de estar
solidários com o resto do país. Embora como se vê, e no estrangeiro
idem, nós somos os grandes fomentadores da cultura e da língua
portuguesa, e somos, para além de tudo, rentáveis. Os espectáculos,
sejam à porta fechada, ou à porta aberta, têm sempre mais valia.
Seremos penalizados sim, como o resto do país será penalizado, por
erros que não fizemos. Não fomos nós que estivemos a gerir o país,
mas agora temos de estar todos solidários. Mas uma coisa é certa o
espectáculo não pode parar, nunca esta expressão esteve tão actual.
Independentemente dos cortes que sejam feitos, o espectáculo vai
continuar.
Nos espectáculos está a interpretar
temas do mais recente registo. Trata-se de um trabalho de ruptura?
Quando é que um músico percebe que é altura de mudar e trocar de
banda?
Quando as coisas se cristalizam. Quando o sucesso
se torna institucional e as pessoas já estão a espera que se façam
sempre sucessos. Sobretudo se a estrutura interna do grupo
cristaliza. Estamos a falar de músicos e técnicos, uma estrutura de
47 pessoas se deixa de ser uma diversão para passar a ser um
emprego, está na altura de mudar tudo. A música é uma emoção, é
magia, é encantamento, empatia com o público, não é um emprego. É
uma forma de levar às pessoas a magia que lhes é retirada. O músico
tem de romper consigo próprio, ousar. Mas a arte é isso,
ousar.
O músico nunca se pode acomodar com aquilo que já
fez?
Ninguém se pode acomodar com o que já fez. Por
isso é que escrevi uma canção "Fazer o que Ainda não foi Feito". O
que está para trás, está para trás, está feito. Não vou dormir a
ouvir os meus discos. Um escritor não lê os seus livros, escreve
outro. Tenho uma atitude completamente despegada do passado, eu
tenho uma atitude de futuro. Aquilo que interessa é o que vou fazer
para frente.
O single O Rei do Bairro Alto chegou às rádios numa
versão acústica e também numa remistura. Agrada-lhe esse tipo de
abordagem das músicas?
É uma forma de irmos a vários públicos. O single
está em alta rotação como Fazer o que Ainda não foi Feito e Não
Desistas de Mim. É uma forma de também satisfazer os
mercados.
O seu trabalho chegou também à venda
digital. Na sua opinião, como músico profissional, daqui a cinco
anos a música vai passar muito pela venda na internet?
A música passa por espectáculos, passa por boas
canções. Quando as canções existem, estão na memória das pessoas,
passaram de geração em geração, isso é o que faz a música. O
formato em que é vendida, se é dentro de uma lata de feijão, ou num
Cd, se é Internet ou é via foguetão, é
irrelevante.
Eugénia Sousa e Hugo Rafael (Ràdio Condestável)
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