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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Miguel Ângelo e Miguel Gameiro
Canções ao desafio em Oleiros

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Os músicos portugueses Miguel Ângelo,  ex-vocalista da Banda Delfins, e Miguel Gameiro,  ex-vocalista dos Pólo Norte, juntaram-se num projecto acústico chamado Canções ao Desafio. "Um Lugar ao Sol", "A Baía de Cascais", "Sou como um Rio", "O Grito", "Aprender a Ser Feliz" ou "Aquele Inverno" são alguns dos temas que marcaram o percurso destes músicos e o panorama musical português. Miguel Ângelo e Miguel Gameiro actuam no dia 13 de Agosto, na Festa de Oleiros afirmam o que está a ser o projecto musical Canções ao Desafio.

 Como é que surgiu esta oportunidade de poderem colaborar como dupla?

Miguel Gameiro - À mesa. Como quase todas as grandes ideias, foi à mesa, num jantar. Lembramo-nos de trazer estas canções, tal e qual como foram escritas e compostas. Obviamente, com um ou outro arranjo diferente e que se enquadrasse mais neste tipo de espectáculo. Decidimos juntar o melhor de dois mundos e trazer a nossa história enquanto músicos, e a história das pessoas, porque as canções acabam por fazer parte da história da vida das pessoas.

  Foi uma química directa, logo que começaram a ensaiar?

Miguel Gameiro - Acho que sim. Nós já tínhamos partilhado o palco várias vezes, andámos na estrada juntos, nos anos 95, 96, na altura das tournés. Depois, gravei "O Grito", com os Pólo Norte, e o Miguel gravou "Um Lugar ao Sol", comigo, "A Baía de Cascais", e sempre que estávamos juntos vínhamos ao palco cantar, fosse num teatro, ou num espectáculo de Verão. Há uma relação que já vem de trás, somos amigos. E agora tivemos a sorte, no meu caso são mais de vinte anos de carreira musical, de percebermos que algumas das canções dos Pólo Norte e do Delfins, sobretudo os singles, estão vivos. Apenas só anunciando boca a boca, este é um dos espectáculos com mais êxito, neste Verão, em Portugal, numa altura de grande crise, em que é muito difícil para os artistas terem espectáculos. Nós sem disco, playlist, sem um tema na rádio, nem publicidade, sem críticas nos jornais, nada a não ser o nosso pequeno facebook e o boca, a boca conseguimos estar a tocar, de Norte a Sul, este Verão inteiro.

Com um feedback tão positivo nas actuações, de Norte a Sul do país, esta dupla poderá passar dos espectáculos para o estúdio e editar um álbum de originais?

Miguel Gameiro -Sim, há algumas ideias. Neste momento não falamos tanto de originais, mas há umas ideias em gravarmos eventualmente um DVD, com um espectáculo, em lugar e data a anunciar. Mas a ideia é registarmos esse momento do que temos feito por este pais.

Este projecto constituiu para a dupla uma interessante aventura?

Miguel Gameiro - Sim, tem sido uma aventura desde que nos conhecemos. Como o Miguel disse à pouco, e bem, tivemos a oportunidade de criar uma amizade e só essa amizade torna possível a interacção em palco e a cumplicidade que depois acaba por passar para o público. As pessoas acabam por sentir essa cumplicidade e isso também torna o espectáculo mais interessante e mais cativante.

 Ao pegar nos temas dos Delfins, uma mão cheia de clássicos, sente alguma nostalgia?

Miguel Ângelo - Não. Não sou uma pessoa nostálgica. Fiz o que tinha a fazer, fi-lo bem, em muitos dos casos. Tive a sorte de algumas dessas canções ficarem no património da memória da música popular e dos portugueses, agora quero fazer mais coisas. Não me queria reformar passados 25 anos de carreira. Tive a sorte de começar bem cedo a ensaiar e a escrever canções, para poder pensar que fiz durante um quarto de século, que é uma parte muito importante da minha vida, enquanto músico profissional.  Agora quero fazer outras coisas. Esta tourné vive ainda há conta dessa memória e dessa canções, que estão bem vivas ainda, mas há coisas novas. Estou embrenhado num colectivo chamado Movimento, que vai começar a tocar agora em Agosto, por todo o país. Com uma abordagem de música soul, com muitos temas obscuros e alguns clássicos da música portuguesa, dos anos 60. Em Setembro já estarei em estúdio, em 2012 será o ano em que irei lançar o meu disco a solo, pós final carreira nos Delfins. Se calhar, tenho ainda mais vinte e tal anos para uma segunda volta da minha vida, enquanto músico e compositor.

Em relação aos Delfins, o projecto é mesmo um livro fechado?

É um livro aberto. Já na próxima sexta-feira, vai sair uma Banda Desenhada (BD), com o Diário de Notícias, sobre os primeiros anos dos Delfins, e que aconselho pois está muito engraçada. Uma BD muito poética, é um livro para abrir. Também "abri" um livro em Novembro do ano passado, quando editei a minha auto-biografia chamada "Um Lugar ao Sol", dos vinte e cinco anos de carreira, onde conto a história toda, portanto há sempre uma releitura daquilo que fizemos. Estou aqui a cantar "O Nasce Selvagem", com o Miguel e a banda, e a fazer uma releitura do tema. Acho que as coisas foram bem feitas e é um livro que estará sempre aberto para várias releituras. A vantagem desta tourné, das Canções ao Desafio, é continuar a mostrar que as canções não estão esquecidas, não estão fechadas ou arrumadas numa estante de CDs, ou num disco rígido de computador. As canções estão aqui, estão vivas e podem ser ouvidas estas noites todas que vamos tocar. Podem ser descobertas por novas gerações, reutilizadas, transformadas como quiserem. A cultura tem haver com isso, com história, passado, presente e futuro.

 O Miguel Gameiro, depois da carreira nos Pólo Norte aposta numa carreira a solo, com Porta Aberta. É uma Porta que tem aberto muitas janelas?

Miguel Gameiro - É uma Porta que curiosamente abriu e ficou escancarada. Não esperava que a receptividade ao meu trabalho surgisse desta forma. Este ano tem sido um ano muito positivo, o meu disco é disco de ouro, recentemente. "Dá-me um Abraço" é uma das canções mais passadas na rádio. "Dá-me um Abraço" encontrou os braços certos e tenho feito também muitos concertos. Não me podia sentir mais feliz, já que o passo que se dá, quando se tem uma banda e se vai gravar um álbum a solo, é sempre um passo difícil, que às vezes pode ser mal compreendido, ou mal realizado. Comigo as coisas felizmente correram bem. Tive a felicidade de escrever estas canções.

  Há um lado muito intimista no seu disco de estreia a solo, lado esse que se encaixa também nestes espectáculos acústicos…

É verdade. Fiz um espectáculo que se enquadrasse numa vertente ao ar livre e também em auditórios Apesar do concerto ao ar livre ter uma energia um pouco diferente. O espaço do auditório vai buscar mais intimidade, mais proximidade, é um espaço para mais conversa. Mas, de alguma maneira, as pessoas identificam-se com este espectáculo, com as canções, e isso deixa-me satisfeito.

Eugénia Sousa e Hugo rafael (Rádio Condestável)
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