Miguel Ângelo e Miguel Gameiro
Canções ao desafio em Oleiros
Os músicos portugueses Miguel Ângelo,
ex-vocalista da Banda Delfins, e Miguel Gameiro, ex-vocalista
dos Pólo Norte, juntaram-se num projecto acústico chamado Canções
ao Desafio. "Um Lugar ao Sol", "A Baía de Cascais", "Sou como um
Rio", "O Grito", "Aprender a Ser Feliz" ou "Aquele Inverno" são
alguns dos temas que marcaram o percurso destes músicos e o
panorama musical português. Miguel Ângelo e Miguel Gameiro actuam
no dia 13 de Agosto, na Festa de Oleiros afirmam o que está a ser o
projecto musical Canções ao Desafio.
Como é que surgiu esta oportunidade de poderem
colaborar como dupla?
Miguel Gameiro - À mesa. Como
quase todas as grandes ideias, foi à mesa, num jantar. Lembramo-nos
de trazer estas canções, tal e qual como foram escritas e
compostas. Obviamente, com um ou outro arranjo diferente e que se
enquadrasse mais neste tipo de espectáculo. Decidimos juntar o
melhor de dois mundos e trazer a nossa história enquanto músicos, e
a história das pessoas, porque as canções acabam por fazer parte da
história da vida das pessoas.
Foi uma química directa, logo que
começaram a ensaiar?
Miguel Gameiro - Acho que sim.
Nós já tínhamos partilhado o palco várias vezes, andámos na estrada
juntos, nos anos 95, 96, na altura das tournés. Depois, gravei "O
Grito", com os Pólo Norte, e o Miguel gravou "Um Lugar ao Sol",
comigo, "A Baía de Cascais", e sempre que estávamos juntos vínhamos
ao palco cantar, fosse num teatro, ou num espectáculo de Verão. Há
uma relação que já vem de trás, somos amigos. E agora tivemos a
sorte, no meu caso são mais de vinte anos de carreira musical, de
percebermos que algumas das canções dos Pólo Norte e do Delfins,
sobretudo os singles, estão vivos. Apenas só anunciando boca a
boca, este é um dos espectáculos com mais êxito, neste Verão, em
Portugal, numa altura de grande crise, em que é muito difícil para
os artistas terem espectáculos. Nós sem disco, playlist, sem um
tema na rádio, nem publicidade, sem críticas nos jornais, nada a
não ser o nosso pequeno facebook e o boca, a boca conseguimos estar
a tocar, de Norte a Sul, este Verão
inteiro.
Com um feedback tão positivo nas actuações, de Norte a Sul
do país, esta dupla poderá passar dos espectáculos para o estúdio e
editar um álbum de originais?
Miguel Gameiro -Sim, há algumas
ideias. Neste momento não falamos tanto de originais, mas há umas
ideias em gravarmos eventualmente um DVD, com um espectáculo, em
lugar e data a anunciar. Mas a ideia é registarmos esse momento do
que temos feito por este pais.
Este projecto constituiu para a dupla uma interessante
aventura?
Miguel Gameiro - Sim, tem sido
uma aventura desde que nos conhecemos. Como o Miguel disse à pouco,
e bem, tivemos a oportunidade de criar uma amizade e só essa
amizade torna possível a interacção em palco e a cumplicidade que
depois acaba por passar para o público. As pessoas acabam por
sentir essa cumplicidade e isso também torna o espectáculo mais
interessante e mais cativante.
Ao pegar nos temas dos Delfins, uma mão cheia de
clássicos, sente alguma nostalgia?
Miguel Ângelo - Não. Não sou uma pessoa
nostálgica. Fiz o que tinha a fazer, fi-lo bem, em muitos dos
casos. Tive a sorte de algumas dessas canções ficarem no património
da memória da música popular e dos portugueses, agora quero fazer
mais coisas. Não me queria reformar passados 25 anos de carreira.
Tive a sorte de começar bem cedo a ensaiar e a escrever canções,
para poder pensar que fiz durante um quarto de século, que é uma
parte muito importante da minha vida, enquanto músico
profissional. Agora quero fazer outras coisas. Esta tourné
vive ainda há conta dessa memória e dessa canções, que estão bem
vivas ainda, mas há coisas novas. Estou embrenhado num colectivo
chamado Movimento, que vai começar a tocar agora em Agosto, por
todo o país. Com uma abordagem de música soul, com muitos temas
obscuros e alguns clássicos da música portuguesa, dos anos 60. Em
Setembro já estarei em estúdio, em 2012 será o ano em que irei
lançar o meu disco a solo, pós final carreira nos Delfins. Se
calhar, tenho ainda mais vinte e tal anos para uma segunda volta da
minha vida, enquanto músico e compositor.
Em relação aos Delfins, o projecto é mesmo um livro
fechado?
É um livro aberto. Já na próxima sexta-feira, vai
sair uma Banda Desenhada (BD), com o Diário de Notícias, sobre os
primeiros anos dos Delfins, e que aconselho pois está muito
engraçada. Uma BD muito poética, é um livro para abrir. Também
"abri" um livro em Novembro do ano passado, quando editei a minha
auto-biografia chamada "Um Lugar ao Sol", dos vinte e cinco anos de
carreira, onde conto a história toda, portanto há sempre uma
releitura daquilo que fizemos. Estou aqui a cantar "O Nasce
Selvagem", com o Miguel e a banda, e a fazer uma releitura do tema.
Acho que as coisas foram bem feitas e é um livro que estará sempre
aberto para várias releituras. A vantagem desta tourné, das Canções
ao Desafio, é continuar a mostrar que as canções não estão
esquecidas, não estão fechadas ou arrumadas numa estante de CDs, ou
num disco rígido de computador. As canções estão aqui, estão vivas
e podem ser ouvidas estas noites todas que vamos tocar. Podem ser
descobertas por novas gerações, reutilizadas, transformadas como
quiserem. A cultura tem haver com isso, com história, passado,
presente e futuro.
O Miguel Gameiro, depois da carreira nos Pólo Norte
aposta numa carreira a solo, com Porta Aberta. É uma Porta que tem
aberto muitas janelas?
Miguel Gameiro - É uma Porta que
curiosamente abriu e ficou escancarada. Não esperava que a
receptividade ao meu trabalho surgisse desta forma. Este ano tem
sido um ano muito positivo, o meu disco é disco de ouro,
recentemente. "Dá-me um Abraço" é uma das canções mais passadas na
rádio. "Dá-me um Abraço" encontrou os braços certos e tenho feito
também muitos concertos. Não me podia sentir mais feliz, já que o
passo que se dá, quando se tem uma banda e se vai gravar um álbum a
solo, é sempre um passo difícil, que às vezes pode ser mal
compreendido, ou mal realizado. Comigo as coisas felizmente
correram bem. Tive a felicidade de escrever estas
canções.
Há um lado muito intimista no seu disco
de estreia a solo, lado esse que se encaixa também nestes
espectáculos acústicos…
É verdade. Fiz um espectáculo
que se enquadrasse numa vertente ao ar livre e também em auditórios
Apesar do concerto ao ar livre ter uma energia um pouco diferente.
O espaço do auditório vai buscar mais intimidade, mais proximidade,
é um espaço para mais conversa. Mas, de alguma maneira, as pessoas
identificam-se com este espectáculo, com as canções, e isso
deixa-me satisfeito.
Eugénia Sousa e Hugo rafael (Rádio Condestável)
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