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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Março 2024 nº90 Ano XXII
Miguel Marques, presidente da Câmara de Oleiros
“Uma boa ligação a Castelo Branco será uma batalha minha”

L1090674Miguel Marques assumiu, no passado mês de junho, a presidência da Câmara de Oleiros, após o então presidente, Fernando Marques Jorge, ter renunciado, a 31 de maio, ao cargo por motivos de saúde. O autarca considera que uma boa ligação à capital de distrito é fundamental e promete travar “essa batalha” para que a estrada nacional 238, entre Oleiros e o Alto da Foz de Giraldo seja requalificada, ficando com perfil de itinerário complementar, com zonas de três faixas de rodagem. Nesta sua primeira entrevista enquanto presidente fala dos projetos e da estratégia que está a ser seguida para o concelho, e anuncia a construção de uma incubadora de empresas e a ampliação da zona industrial de Açude Pinto.

Tomou posse há cerca de um mês, mas já fazia parte da equipa liderada por Fernando Jorge. Qual vai ser o seu cunho pessoal para a autarquia e o concelho?
Todos nós, quando ocupamos estes cargos, temos uma visão estratégica para o concelho. Eu fazia parte da equipa do Dr. Fernando Jorge e tínhamos essa visão. É evidente que cada pessoa tem a sua marca. Na minha perspetiva, aquilo que é importante seja no concelho de Oleiros, seja em dois terços do território do interior, é combater a quebra demográfica. Isso consegue-se com empreendedorismo, apoiando o tecido empresarial, criando emprego qualificado e não qualificado, e ao mesmo tempo apostando na habitação, pois sem ela não conseguimos atrair pessoas para o nosso território. Contudo, no topo da pirâmide estão sempre as pessoas e os apoios sociais que vamos tendo no concelho, o apoio aos jovens na sua formação académica, a cultura e o desporto. Tudo isto faz parte de uma cadeia que deve ser defendida por quem está à frente de uma autarquia como Oleiros.

Referiu-se à captação de empresas. Oleiros tem conseguido captar investimento?
Neste momento temos a Optimal a funcionar nas instalações da antiga Steiff, com 20 funcionários quase na sua totalidade residentes no nosso concelho. Temos também a perspetiva para no terreno onde estava a serração do Roqueiro, adquirido pela autarquia,  ser instalada uma fábrica de painéis fotovoltaicos, que empregará, no seu arranque, entre 10 a 20 pessoas. Estes são, no imediato, os dois grandes investimentos que temos no nosso concelho.

Já por várias vezes se noticiou que a Lusiaves iria instalar um aviário na freguesia do Estreito. Em que fase está esse processo? Esse investimento vai mesmo concretizar-se?
Ainda bem que me coloca essa questão. É natural que as pessoas se questionem sobre o que se passa, pois os trabalhos arrancaram em grande ritmo e depois pararam. Aquilo que se passou é que a zona onde se vai instalar a Lusiaves estava classificada como Reserva Ecológica Nacional (REN). Foi necessário, na altura, excluir essa mancha da REN, num processo que além da empresa teve como intervenientes a Câmara de Oleiros e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. Acontece, que após a movimentação de terras, verificou-se que tinha que haver algumas alterações na implantação dos pavilhões. E, novamente, essa área não estava excluída da REN, pelo que teve que se fazer um novo processo. Está a decorrer um novo estudo de impacto ambiental e estou em crer que até ao final do ano isso ficará concluído. Da parte do nosso município o processo decorrerá com maior celeridade, para que se possa dar início à construção dos pavilhões. Isto para referir que o investimento continua de pé.

Ainda na área da economia, foi anunciada a construção de uma incubadora de empresas. Para quando vão arrancar os trabalhos e como irá funcionar?
Foi lançado o concurso de ideias, ao qual concorreram duas empresas. A que venceu esse concurso até ao final de agosto terá que entregar o projeto completo, para lançarmos o concurso da obra. Trata-se de um espaço dedicado a diferentes setores da economia, dando preferência às empresas do concelho. Ainda há muitas que funcionam em casa e em garagens, e queremos dinamizar as zonas industriais, neste caso a de Alverca, e permitir que essas empresas tenham ali melhores condições para desenvolverem a sua atividade, possam crescer e ao mesmo tempo aumentarem o seu volume de negócios e o número de trabalhadores.

A autarquia tem espaços disponíveis para acolher empresas que queiram investir no concelho?
Ainda temos alguns espaços disponíveis, mas já adquirimos um terreno na zona industrial de Açude Pinto e iremos encetar negociações com outros proprietários, para que possamos adquirir uma outra propriedade, de forma a ampliar e requalificar essa zona industrial.

O facto de Oleiros ter instaladas empresas conceituadas nacional e internacionalmente, como a Pirotecnia Oleirense ou a Optimal, para dar dois exemplos, pode ser motivo de atração de outros investimentos?
Obviamente que sim. Temos empresas de renome, em várias áreas para além das que citou, como na metalomecânica, que têm vindo a ser galardoadas com vários prémios pelo seu desempenho. E tê-las no nosso território pode ser chamariz para outras. É isso que queremos, tendo sempre em primeira linha o apoio às empresas que já cá estão, fazendo-as crescer e tornando-as sustentáveis.

As vias de comunicação continuam a prejudicar o concelho?
Continuam. Essa é uma batalha na qual serei firme. E apesar de muitas pessoas me dizerem que não será possível concretizar-se, tudo farei para que a ligação entre Oleiros e o Alto da Foz de Giraldo seja requalificada. É verdade que temos outras ligações à capital de distrito, mas a principal ainda é a Estrada Nacional 238. A autarquia de Castelo Branco requalificou a estrada até ao Alto da Foz do Giraldo. No concelho de Oleiros o percurso é muito díficil com demasiadas curvas.  Aquilo que queremos é tornar essa ligação mais rápida e cómoda. Já existiram projetos e planos que previam um trajeto diferente entre Oleiros e Castelo Branco. Mas temos que ter os pés bem assentes na terra. Neste momento, com as dificuldades que o país vai tendo, a aposta terá que ser feita na requalicação do troço entre Oleiros e a Foz do Giraldo, com a eliminação de curvas e ter zonas com três faixas de rodagem, como acontece nos itinerários complementares. O objetivo é que esse troço pudesse ser feito em 15 ou 20 minutos. E aí já conseguiríamos estar a uma distância da capital de distrito de 30 a 35 minutos. Isso é muito importante, pois a nossa ligação a Castelo Branco é muito forte. O Hospital Amato Lusitano é o nosso hospital, e a requalificação dessa via será uma batalha que pretendo travar. Iremos falar com as Infraestruturas de Portugal para estudarmos as melhores soluções.

Quando se fala em economia temos que falar em floresta. O concelho tem sido atingido, de forma cíclica, por incêndios florestais. Que evolução houve para melhorar o ordenamento da floresta?
Mudar o paradigma da gestão da floresta é complexa. A verdade é que o investimento na floresta é de alto risco, com os incêndios à cabeça. É preciso criar nas pessoas a consciência de que a sustentabilidade da floresta terá que obedecer a determinados critérios que até ao momento não aconteciam. O atual modelo não funciona. Agora temos novos paradigmas. Surgiram Áreas Integradas de Gestão da Paisagem e no concelho temos a do Caniçal, da freguesia de Oleiros-Amieira, que vai fazendo o seu caminho. Já tem uma entidade gestora e 50% dos proprietários já fizeram, junto do Balcão Único do Prédio (BUPI), o cadastro dos terrenos. O Município tem outras duas AIGP desenhadas para as freguesias de Estreito-Vilar Barroco e da Isna. Estamos a trabalhar no sentido de as poder candidatar. Temos também uma candidatura efetuada para os condomínios da aldeia, no sentido de conseguir mudar a parte florestal junto das aldeias. É uma candidatura de cerca de 750 mil euros que envolve também a perspetiva da aldeia segura.

E o cadastro dos terrenos está a avançar?
Em termos do BUPI, o concelho tem cerca de 70 mil matrizes. Neste momento as georreferenciações rondam as oito mil. Este ano já tivemos mais do que nos anos de 2022 e 2021. Temos feito um trabalho de proximidade. O BUPI tem-se deslocado às freguesias e às várias localidades, fazendo um trabalho de porta a porta, elucidando as pessoas da importância de fazerem o seu cadastro. E há ainda a possibilidade de, aos sábados de manhã, por marcação atender as pessoas que só vêm ao concelho aos fins-de-semana.

Da parte dos proprietários há consciência da necessidade de fazerem o cadastro das propriedades?
Existe essa consciência. O problema é que temos um território de minifúndio, com as propriedades muito divididas. Em muitos casos passaram de geração em geração sem ter existido a regularização das mesmas, continuando em heranças indivisas. Além disso, muitos dos proprietários já não conseguem localizar exatamente onde se situam as suas propriedades. Este é um processo longo e difícil.  

Em termos económicos a floresta continua a ser decisiva para o concelho?
A floresta é a nossa maior riqueza e a economia gira muito em torno dela. Os incêndios que foram assolando a região fizeram com que a matéria-prima fosse diminuindo e que as empresas tivessem que recorrer à de outros territórios. Mas há uma dinâmica interessante e estou em crer que a curto ou médio prazo poderão surgir novas empresas deste setor.

Recentemente foi implementado um projeto-piloto, na freguesia da Isna, para a recolha de resina. Essa é uma atividade que poderá regressar ao concelho?
Poderá ser reativada. A resina já foi a grande fonte de rendimento do concelho. Oleiros teve mesmo uma fábrica, que empregava muita gente. Por circunstâncias várias, como a entrada da China nesse mercado e o aparecimento de resina sintética, a zona do pinhal foi perdendo força. Este projeto, que envolve as universidades, pode ser um dos pontos que permitia regressar a extração da resina de uma forma inovadora. Espero que possa ser uma nova fonte de rendimento para o concelho.

Miguel MarquesA questão da saúde é outro dos fatores que podem atrair pessoas e empresas. Em Oleiros é fácil aceder a esses serviços?
Neste momento as pessoas que aqui residem não têm grandes dificuldades em aceder aos serviços de saúde. Temos dois médicos residentes no concelho e que aqui estão a tempo inteiro. Isto deu uma nova dinâmica ao Centro de Saúde. Neste momento não há filas de espera e o Centro de Saúde vive uma situação boa. Também no âmbito daquilo que foi o programa de apoio aos jovens do concelho que foram estudar medicina, há uma estudante que já está a tirar a especialidade e há a expetativa que ela venha a exercer medicina no nosso concelho. Será mais um médico que aqui teremos.

A nível das freguesias também há essa facilidade?
Sim, nos dias em que há transporte deslocam-se ao Centro de Saúde. Não tenho conhecimento de haver dificuldade. Além disso, recomeçámos também com a Unidade Móvel de Saúde. Abrimos concurso para um lugar de enfermeiro e temos nos quadros da autarquia uma enfermeira que tem vindo a fazer um trabalho de porta a porta e de proximidade com as pessoas, não só nas sedes de freguesia, como nos lugares. Existe a possibilidade de num dos dias em que a unidade estiver nas sedes de freguesia, um médico estar presente, prestando apoio aos utentes. Já tivemos uma conversa com o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde nesse sentido.

O apoio à vertente social tem sido uma aposta vossa. Isso vai manter-se?
Vão manter-se todos e vamos reforçar alguns. A psicóloga que estava a trabalhar connosco foi fazer uma especialização de três anos, pelo que tivemos que contratar uma outra profissional, para garantir esse apoio. Os programas de apoio ao luto e apoio psicológico, bem como o Programa Cuidador, já premiado, vão continuar.

O turismo é um setor em crescimento. O que ainda pode ser feito para cativar mais pessoas a visitarem e pernoitarem no concelho?
Este é um dos vetores de desenvolvimento do nosso território. Neste momento, os operadores turísticos falam em aumento de procura, quer no alojamento, quer na restauração. Tenho reunido com investidores privados que pretendem construir novos alojamentos turísticos em freguesias do concelho. O turismo é uma aposta para manter e reforçar. Com a abertura do Miradouro do Zebro, da autoria do arquiteto Siza Vieira, haverá mais um ponto forte de atração. A questão gastronómica é também importante e estamos a proceder à certificação europeia do cabrito estonado. O vinho Callum é outro produto, que com a adega na Cardosa, teve um forte incremento. Este é um exemplo de empreendedorismo. E é este tipo de exemplos que queremos que surjam no concelho, para que possamos tornar Oleiros num dos pontos de turismo mais importantes do país.

No que respeita à educação, como é que Oleiros tem resistido à quebra da natalidade?
No ano passado houve uma inversão na tendência que vinha a registar-se na diminuição de alunos. No 1º ciclo aumentámos esse número. Isto está relacionado com os migrantes que foram chegando ao nosso concelho. Pela primeira vez em muito tempo isso aconteceu. Este ano, segundo o que me foi transmitido pelo diretor do Agrupamento, as matrículas decorrem a bom ritmo. O concelho de Oleiros tem também estabelecido acordos com países africanos de língua oficial portuguesa, e este ano iremos ter alunos de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde. Nesse sentido já entrámos em contacto com as embaixadas.

A nível de outros ciclos. Olham também para a Universidade da Beira Interior e para o Politécnico de Castelo Branco como futuros parceiros para pós-graduações ou outro tipo de formação, como CTESP ou microcredenciais?
Obviamente que sim. Temos todas as condições para acolher aqui em Oleiros um pólo ou outra estrutura, seja de universidades, como a Beira Interior ou Coimbra, ou de politécnicos, neste caso o de Castelo Branco. Qualquer formação ligada à floresta seria importante que fosse feita em Oleiros. Poderá ser uma das apostas. Com o politécnico isso já foi falado. Não é uma situação fácil, mas será um vetor que é importante, e estamos abertos a conversar com qualquer instituição para encontrar uma solução ideal para os estudantes, para as instituições e para o município.

Ao nível desportivo, o concelho de Oleiros apenas tem um representante em provas oficiais de futebol de 11. A ARCO no ano passado optou por não participar, depois de ter conquistado a manutenção no Campeonato de Portugal e da Federação ter exigido a certificação. Enquanto ex-atleta e como autarca, como é que vê essa situação?
Cheguei a jogar nas camadas jovens da Associação e fiquei triste quando a ARCO deixou de competir no campeonato nacional e nos distritais. Essa situação foi triste para todos os oleirenses. A boa nova, que posso anunciar, é que a ARCO vai desenvolver um conjunto de outras atividades, torneios com jovens, caminhadas, etc, e nós cá estaremos para apoiar o clube, neste novo recomeço. No concelho temos o Águias do Moradal, que é o nosso representante futebolístico e vamos continuar a apoiá-lo para que possa competir. No futsal e karaté temos a Casa do Benfica em Oleiros que tem cerca de 90 atletas. Isto deixa-me feliz por os nossos jovens poderem continuar a praticar desporto.

Além do desporto, o associativismo tem um cunho forte no concelho…
As associações são os intermediários entre as pessoas, as freguesias e o município. No Dia do Concelho vamos estabelecer diversos protocolos de apoio com as associações. No ano passado esse apoio rondou o meio milhão de euros, o que é significativo. E iremos continuar a apoiar todas as associações que nos manifestem o seu interesse, que apresentem o seu plano de atividades e que este vá ao encontro das populações.

O seu pai foi presidente da Câmara de Oleiros durante vários mandatos, tendo deixado uma forte marca no concelho. Isso traz-lhe mais responsabilidade?
Eu não diria isso. Sei distinguir essas situações. Até às eleições de 2021 eu nunca tinha assumido qualquer papel na política. Nesta parte eu estou perfeitamente à vontade. O tempo dos outros presidentes de câmara, seja o meu pai, dos que o antecederam, ou do Dr. Fernando Jorge, foi muito importante, pois permitiu concretizar vários projetos determinantes para o nosso concelho. Estamos a falar de um tempo em que a população não tinha estradas, luz, saneamento básico. As prioridades eram outras e foram sendo resolvidas. Hoje em dia, e num momento em que vivemos a era digital, as prioridades vão sendo outras. Obviamente que eu não me esqueço que o meu pai foi presidente de câmara, mas isso não me traz nenhuma responsabilidade acrescida. A responsabilidade de quem está nestes cargos é sempre enorme. O que eu pretendo é deixar a minha marca pessoal e espero consegui-lo. Isso passa por ter uma visão estratégica, apoiando as nossas populações, as nossas empresas, conseguir atrair novas pessoas para o concelho e desenvolvê-lo. Esse é que é o desafio e espero contar com o apoio de toda a comunidade e da sociedade civil, pois de outra forma não faz sentido estarmos neste lugar.