Estudo de 52 anos é agora editado em livro
Como o bócio foi eliminado do concelho
A endemia de bócio afetou
gravemente, em meados do século passado, o concelho de Oleiros
e os seus concelhos limítrofes. Entre 1963 e 1966, os médicos
Fernando Dias de Carvalho e José Lopes Dias efetuaram um estudo, no
terreno, que permitiu depois a implementação de uma profilaxia com
sal iodado. O documento é agora editado em livro pela Câmara de
Oleiros, numa edição da RVJ Editores, e coordenado por Fernando
Dias de Carvalho. O livro será apresentado no Dia do Concelho, a 13
de agosto, pelas 15 horas no Salão Nobre dos Paços do
Concelho.
Um documento histórico, que além
de mostrar a realidade daquele território, apresenta de forma
detalhada e em quadros estatísticos a presença dessa endemia. Além
disso, reúne num caderno de 16 páginas um conjunto de imagens dessa
época e outras modernas (da autoria de Acácio Fernandes, Alberto
Ladeira e da RVJ Editores), que demonstram a evolução e a
qualidade de vida que o concelho alcançou nos últimos 52
anos.
O livro surge da vontade da
Câmara de Oleiros. "A realidade vivida na primeira metade do século
passado no que diz respeito a esta doença, trouxe muitos problemas
a estas populações aqui bem vincados, e que são um testemunho da
saúde pública e da medicina curativa da época. Ao respeitarmos o
passado e nos apercebermos das suas deficiências temos o caminho
aberto para um futuro de sucesso", explica o presidente do
Município, Fernando Jorge, na nota de abertura que escreveu para
esta obra.
Com a chancela da RVJ Editores, o
estudo agora com 52 anos, permitiu a implementação de uma
profilaxia com sal iodado. Em 1977 a endemia tinha praticamente
desaparecido quer entre as crianças e jovens em idade escolar, quer
nos adultos.
Na época foi avaliada uma parte
significativa da população do concelho (10441 dos 15553
habitantes). Os resultados demonstraram números alarmantes e a
necessidade de intervir. "Eram portadores de bócio 4533 indivíduos,
sendo 68,06% do sexo feminino e 29,7% do masculino. Como
consequência da endemia - além da hipertrofia da glândula tiroideia
- observámos, também, casos de hipotiroidismo, cretinos e
cretinoides", refere Fernando Dias de Carvalho, no resumo deste
livro.
O médico pediatra, que exerceu
também funções de diretor do Hospital Distrital de Castelo Branco,
lembra no preâmbulo do livro que "o contacto com esta população
durante três anos deu-me a possibilidade de conhecer a pobreza, a
angústia, a ansiedade, o sofrimento físico e psicológico destas
gentes, suportado ao longo de muitas gerações, centenas de anos,
arrastando as deformações que provocavam sofrimento físico e
psíquico e que viam repetir-se nas gerações seguintes, os seus
filhos, e a tristeza que lhes causava".
"Apesar de todo o sofrimento e
mau estar, sentiam um tão grande amor à terra que os impedia de
partir e quando por obrigação tinham de o fazer, a maior parte
regressava (…)", conta.
52 anos depois de ter efetuado o
estudo, Fernando Dias de Carvalho diz sentir "como podem ser
ultrapassáveis muitas das dificuldades resultantes de grandes
atrasos civilizacionais. Quando nos anima a forte determinação de
contribuir para o desenvolvimento humano não há isolamento que não
possa ser vencido, não há barreiras físicas, como a falta de meios
de comunicação, que não sejam ultrapassáveis, não há hábitos que
não possam ser modificados".
No entender do médico, "hoje,
Oleiros é uma vila moderna com meios de comunicação, edifícios
escolares modernos e equipamentos de cultura e lazer graças ao
Poder Local nascido em 1974".