Opinião
Apalaches, motor de desenvolvimento
Os
Apalaches são uma cordilheira de montanhas da América do Norte que
se estende da Terra Nova e Labrador (no Canadá) ao estado do
Alabama (no sudeste dos Estados Unidos da América). Do ponto de
vista geológico, estas são montanhas antigas formadas há mais de
250 milhões de anos por colisão de vários continentes que deram
origem ao supercontinente Pangea, com relevo suavizado pela
prolongada ação dos agentes de erosão.
Associado a esta cordilheira está
o Trilho dos Apalaches, um percurso pedestre com cerca de 3500 km
que atravessa os Apalaches no sentido do seu comprimento, passando
por 14 estados dos EUA. Visitado anualmente por 4 milhões de
pessoas, este é também conhecido como "o maior trilho contínuo de
pegadas humanas do mundo". Por todos os motivos, percorrer o mais
famoso Trilho do Mundo, é considerado uma obrigação para todos os
pedestrianistas, pelo que se afirma que "todos deveriam fazê-lo
pelo menos uma vez na vida".
Sendo um marco nos percursos
pedestres, este serve de exemplo para diversos países que visem o
desenvolvimento do ecoturismo, ou simplesmente o bem-estar da
população. Percorrer este trilho é o sonho realizado de qualquer
pedestrianista.
Numa lógica de expansão, este
conceito começou a alargar-se ao Canadá e através do Atlântico
Norte, em 2009, para a Gronelândia, Islândia e Ilhas Faroe,
atingindo as costas da Escandinávia. Do mesmo modo, pelo Canal
Inglês, atingiu as Ilhas Britânicas. A estratégia para o ano de
2012 passou pela entrada no continente europeu através de Portugal,
seguindo depois para Espanha e França, assim como a entrada no
continente africano através de Marrocos. Pretende-se a unificação
do Arco do Atlântico Norte através do Desporto na Natureza.
No caso da entrada do projeto na
Península Ibérica, foi considerado pela organização do
International Appalachian Trail que fazia todo o sentido que este
entrasse em Portugal pelo Geopark Naturtejo, sob inteira influência
do Maciço Ibérico e dentro deste, na sua zona de montanha por
excelência, no concelho de Oleiros, em plena Serra do
Muradal.
Desta forma, a porta de entrada
do IAT em Portugal ocorre na também denominada Grande Rota Muradal
Pangeia, um percurso com 37 km que inclui uma via de BTT, uma
escola de escalada e uma via ferrata (a segunda do país).
Este representa a aproximação do maior trilho contínuo de pegadas
do mundo (situado no continente americano) à Europa. As sensações e
as emoções são uma constante ao longo do relevo apalachiano da
Serra do Muradal e permitem realizar um passeio magnífico por
majestosos pontos de interesse, como os esplêndidos miradouros
naturais no topo das cristas rochosas ou os diversos fósseis que se
encontram a revesti-las (como em nenhum outro ponto do
Mundo).
O IAT pode assim alavancar o
desenvolvimento do território de Oleiros na medida em que
diversifica a oferta turística através de um projeto diferenciador
e de escala internacional, ao mesmo tempo que valoriza e
internacionaliza o património concelhio. Desta forma Oleiros
posiciona-se como destino turístico de excelência, capaz de atrair
diversos segmentos pela oferta de atividades únicas.
Por outro lado, a associação do
território a uma marca de prestígio com a chancela IAT poderá
atrair fluxos turísticos interessantes, assim como potenciar a
articulação com outros produtos ligados à Gastronomia & Vinhos,
como é o caso do Cabrito Estonado e do Vinho Callum, ou ligados a
eventos de relevo na área do desporto aventura. Desta forma,
criam-se novas atividades económicas no setor da hotelaria,
restauração e animação turística, gerando riqueza e emprego no
território.
Outra questão importante,
prende-se com a valorização do património natural e cultural da
Serra do Muradal e das suas aldeias envolventes, assim como o
reforço do interesse científico em áreas como a geologia, a
arqueologia, a botânica ou a ecologia.
Por último e não menos
importante, acresce referir a humanização da paisagem e o aumento
da auto-estima das comunidades de montanha existentes, assim como o
envolvimento das gentes e dos parceiros locais neste projeto, o que
vem fomentar o sentimento de identidade e pertença ao território,
tão essenciais para o seu progresso.
Inês
Martins
(Engenheira
Agrónoma)