Newsletter
Subscreva a nossa newsletter

Newsletter

FacebookTwitter
Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Rui Pedro Braz, comentador da TVI, com raízes no concelho
As voltas da bola no mundo do futebol

image1.JPGO pontapé de saída do mais disputado campeonato de futebol das últimas décadas acontece a 14 de agosto. Rui Pedro Braz, jornalista com raízes no concelho de Oleiros, analisa as possibilidades dos três grandes e perspetiva uma das ligas mais ansiadas dos últimos anos. Aqui fica um excerto da extensa entrevista concedida ao Ensino Magazine, outra publicação do grupo RVJ Editores.

O programa «Mais Transferências», que é transmitido na TVI 24, às 12h30, 18h30 e 22h30, lidera as audiências no cabo, revelando-se um sucesso. A notícia da transferência de Maxi Pereira para o FC Porto foi anunciada em exclusivo. Como funciona o processo de recolher e filtrar a informação para trazer a antena?

O convite para fazer este programa foi lançado pelo diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, e pelo Joaquim Sousa Martins, editor de desporto da TVI, que teve a ideia do «Mais Transferências». O facto de a escolha ter recaído em mim e no Pedro Sousa teve como principal vetor o facto de conseguirmos conciliar a vertente de comentador e jornalista - embora nenhum de nós seja, neste momento, jornalista temos a facilidade de chegar, com rigor, a fontes importantes. A partir do momento em que existem essas duas características o essencial foi definir um rumo para o programa.

(...) 

Devem chegar muitas mensagens de fontes mais ou menos interessadas nas transferências. Como é que se despista a informação contaminada e especulativa?

A partir do momento em que começamos a ter um programa com tanta audiência, é neste momento (em julho), diariamente, o programa mais visto do cabo, faz com que nos comece a chegar muita informação, proveniente dos mais diversos quadrantes. E o nosso trabalho passa por avaliar a consistência e a fiabilidade da informação. Posso dizer que existiram muitas contratações que nos garantiram que se iriam confirmar, originárias de fontes seguríssimas e através do cruzamento de informação e da análise da realidade face aos valores envolvidos chegamos à conclusão que não devíamos avançar. O tempo acabou por dar-nos razão, porque mais tarde soube-se que essas transferências não correspondiam à verdade. Essa filtragem faz-se com capacidade de análise do mercado e, sobretudo, com muito bom senso. E confiança nas nossas fontes, claro está.

A irracionalidade é própria do futebol e dos seus adeptos. Como reage aos insultos e às ameaças que lhe têm sido dirigidos, nomeadamente através das redes sociais?

As redes sociais são uma espécie de metáfora da vida real. Há de tudo. Bem intencionados, mal intencionados. O que não podemos é ceder à ditadura das redes sociais. No dia em que isso acontecer o jornalismo, a isenção e o comentário estão condenados. Porque o que se pretende impor, neste momento, perante o jornalista, o comentador e a figura pública é uma ditadura de pressão, protagonizada por pessoas que muitas vezes não têm nada para fazer na sua vida. Bem sei que a taxa de desemprego é elevadíssima e a falta de formação ainda é grande, mas normalmente são essas pessoas que optam por tecer esses ataques nas redes sociais. O ataque à figura pública passou a ser um hóbi para muitos desses desocupados. É preciso combater essa lógica. Nós não podemos, de maneira nenhuma, trabalhar em função do que é escrito nas redes sociais e da cólera de muitos que descarregam em nós as frustrações do dia a dia.

Sente-se, mesmo que indiretamente, condicionado?

No dia em que me sentir condicionado, o jornalismo estará morto e a figura pública condenada. O grande problema destas pessoas que proliferam nas redes sociais é que pensam que só por saberem o nosso nome e conhecerem o nosso rosto já nos conhecem enquanto pessoas. Isso não é verdade, de maneira nenhuma. A figura pública, por detrás do seu trabalho, tem uma vida, tem família, tem valores, que não podem ser invadidos por este tipo de "terrorismo". Lamento que algumas pessoas, apesar de estarem cada vez mais informadas nos dias que correm, ainda teimam em não fazer o uso correto da informação, limitando-se a agredir quem se expõe.

O defeso futebolístico está a ser fervilhante, nomeadamente com as transferências de Jorge Jesus e Maxi Pereira. Perspetiva-se o mais animado campeonato das últimas épocas?

Acredito que sim. A expectativa é elevadíssima. Os adeptos estão ansiosos. Para começar, a mudança de Jesus do Benfica para o Sporting ajudou a apimentar o arranque dos trabalhos, seguindo-se a também surpreendente transferência de Maxi Pereira do Benfica para o FC Porto. Para além disso, há nomes sonantes que têm chegado, em especial, para Porto e Sporting. Nos leões, Bryan Ruiz e Teofilo Gutierrez, nos dragões, Iker Casillas, Maxi Pereira, Imbula, etc. São todos jogadores talentosos que veem acrescentar qualidade ao futebol português. Para já a grande incógnita é saber como é que o Benfica vai reagir a esta nova estratégia de investimento dos seus dois maiores rivais. Até ver os encarnados são aqueles que precisam de mexer menos. São bicampeões em título e no dia em que gravamos esta entrevista (21 de julho), perderam apenas Maxi Pereira. Podem perder Gaitán e têm Salvio lesionado para alguns meses, o que faz admitir que o plantel necessita de alguns retoques. E depois é preciso saber como é que o Benfica vai reagir à saída de Jesus, após 6 anos na liderança do banco encarnado.

Iker Casillas é a contratação mais mediática de sempre do futebol português?

Sim. Este campeonato tem todos os ingredientes para gerar grande mediatismo. E a contratação de Casillas, com um palmarés impressionante, vai dar grande visibilidade no exterior à nossa liga. Estou em crer que a expectativa que está a ser criada vai ter reflexos na competitividade e na disputa de cada jornada.

Vai, finalmente, ser uma luta a três, como antecipou Jesus?

Vamos ver. Muitas vezes diz-se que o campeonato, neste século, nunca foi disputado a três. Não é verdade. Recordo em 2007/2008, com Fernando Santos no Benfica, Jesualdo Ferreira no FC Porto e Paulo Bento, no Sporting, o campeonato terminou com dois pontos de diferença entre o campeão (FC Porto) e o terceiro (Benfica). Esse campeonato foi competitivo, mas nivelado por baixo e o que os adeptos anseiam é assistir a uma liga nivelada por cima.

(...)

José Mourinho visou as contratações, a seu ver milionárias, para o contexto sócio-económico português, de Sporting e FC Porto. Quem é que o treinador do Chelsea procurou atingir?

Não sei se Mourinho visou Porto ou Sporting, creio antes que procurou beliscar Casillas e Jesus, duas figuras com quem tem mantido um "quid pro quo". Mas há que referir o seguinte, há uma diferença grande entre gastar e investir. Os clubes portugueses não estão a gastar por gastar, estão a investir com a expectativa de obter um retorno desportivo e financeiro. Mas é claro que os clubes nacionais investem acima das suas possibilidades e realidades concretas, com a particularidade de no caso de Benfica e FC Porto esses investimentos serem sustentados nos ganhos. O FC Porto é dos melhores clubes do mundo a valorizar jogadores para posteriormente vendê-los e o Benfica, fruto de uma estratégia de gestão muito sólida e eficaz, tem tido rendimentos na casa dos 200 milhões de euros por ano de faturação, um valor sem precedentes no contexto português. Isto é resultado de algumas boas vendas de ativos, estratégias de marketing fantásticas e do próprio desempenho do canal do clube, a BTV, que permitiu triplicar os ganhos com os direitos televisivos.

(...)

A bolha do futebol português corre o risco de rebentar?

Creio que já houve mais risco do que existe agora. As pessoas têm memória curta e esquecem-se do estado em que estavam os clubes portugueses na transição para este século, com estruturas desfasadas da realidade, estádios obsoletos, um amadorismo tremendo nas práticas de gestão, etc. Esse cenário já não existe. Os clubes estão muito mais profissionais, obviamente que este progresso teve um custo, foi preciso investir e despender importantes verbas para reformular todo o parque desportivo nacional. Para já, Benfica e Porto são os que apresentam melhores resultados na forma como exploram o novo contexto, mas acredito que o Sporting caminha a passos largos para o conseguir, da mesma forma que acho que o futebol português tem capacidade para ultrapassar a crise.

Qual é a probabilidade de algum clube português ser comprado por um milionário russo ou árabe?

O clube mais exposto a uma situação dessa natureza é o Sporting, devido ao facto de os angolanos da Holdimo já terem uma participação muito forte no clube de Alvalade.

O novo patrocinador do Benfica é a transportadora área Fly Emirates. Isso poderá querer indiciar algo?

É diferente. Benfica e Porto têm ambos SGPS (Sociedades Gestoras de Participações Sociais) o que impede que qualquer acionista tenha mais ações da SAD do que o clube, inviabilizando que o clube caia em mãos alheias. Uma coisa é certa, qualquer clube que não apresentar resultados desportivos fica mais exposto aos ataques do mercado.

(...)

Nuno Dias
Direitos Reservados