José Marques na reta final do seu mandato
Oleiros, 28 anos depois
José Marques está a assinalar 28 anos de
presidente da Câmara de Oleiros. A dois meses de deixar o cargo, dá
ao Oleiros Magazine, a sua última grande entrevista enquanto líder
do executivo municipal. A história aqui fica.
É autarca há mais de 30
anos, 28 dos quais como presidente da Câmara de Oleiros, qual o
balanço que faz deste seu percurso?
É um balanço positivo. Fizemos tudo
o que estava ao nosso alcance com fracos recursos, sobretudo nos
primeiros anos. Mas os oleirenses é que podem avaliar o que fizemos
ao longo de todos estes anos. Cumprimos tudo aquilo que prometemos.
Sempre fomos uma equipa de ação, que sabia quais as obras que cada
freguesia e os munícipes precisavam e desejavam. Nos primeiros anos
procurámos que os oleirenses tivessem uma melhoria na qualidade de
vida. Apostámos nas vias de comunicação, no abastecimento de água e
eletrificação das localidades. Este trabalho foi reconhecido e ao
longo destes sete mandatos tivemos sempre o apoio maioritário das
pessoas.
Portanto a primeira
prioridade foi dotar o concelho de infraestruturas
básicas?
Sem dúvida. Eu recordo-me da
primeira campanha que fiz, onde as próprias sedes de freguesia não
tinham calçada. Era só lama. Com isto não quero tirar o mérito aos
meus antecessores, pois cada um fez o que pôde com os recursos que
tinha. A partir de determinada altura os municípios passaram a
poder contar com fundos comunitários e a Câmara de Oleiros soube
apostar nesses fundos, conseguindo sempre mais verbas que o
inicialmente previsto. Isto porque conseguimos ter capacidade
financeira para nos candidatarmos a esses fundos.
Depois dessa fase inicial,
a perspetiva foi outra…
Depois voltámo-nos para os
equipamentos. Aquilo que se verifica hoje por todo o concelho é a
existência de infraestruturas importantes em todo o concelho, como
os pavilhões e os polidesportivos existentes, as piscinas, as
praias fluviais, o parque de campismo, recuperação das escolas para
sedes de associações, o hotel, a zona de lazer envolvente às
piscinas, o mercado, o quartel da GNR, a residência de estudantes
ou a recuperação/construção de sedes de junta de freguesia, entre
muitas outras obras.
O concelho de Oleiros foi
dos primeiros a receber parques eólicos. Isso constituiu uma mais
valia para a região?
Oleiros teve os primeiros parques
eólicos da Beira Baixa. Foi um sucesso, pois os oleirenses que aí
tinham terrenos puderam tirar daí dividendos vendendo-os ou
alugando-os. Os parques também beneficiaram o município devido à
renda que é paga à Câmara.
Uma das riquezas do
concelho é a floresta. Como é que viu a evolução desse setor,
depois de em 2003 ter ardido quase 50 por cento desse espaço
verde?
O concelho de Oleiros, como outros
com caraterísticas semelhantes - temos cerca de 70% de área em
floresta - no verão assistía sempre ao drama dos fogos. Em 2003
aconteceu uma catástrofe, pois mais de 50% ardeu. Mas felizmente
não sucedeu o que temíamos, que era uma saída de famílias do
concelho. Devido a determinados incentivos e ao bairrismo dos
oleirenses, elas ficaram. O que se verifica é que a floresta está a
crescer, mas desordenadamente. As pessoas não têm capacidade
financeira e o Estado não tem investido nesta área. Por isso, estou
muito preocupado, assim como a Proteção Civil e bombeiros, pois
houve regeneração espontânea. A floresta está desordenada. O Estado
alheou-se de uma responsabilidade que também é sua. Todos nós
sabemos as divisas que entram no país e no concelho através das
exportações da madeira.
O verão de 2003 foi o pior
problema que teve de enfrentar enquanto presidente de
câmara?
Foi sem dúvida. Não só pela
dimensão dos incêndios, mas pelas mortes que infelizmente
ocorreram, pelo facto de mais de 50% do concelho ter ardido, e
porque muitas pessoas e famílias ficaram sem habitação (muitas
foram alojadas em residência de estudantes). Nessa altura, num
tempo recorde, conseguimos reconstruir ou construir de raiz as
habitações para todas as famílias afetadas. Nenhuma família ficou
de fora.
2003 foi o ano que mais o
marcou pela negativa. E pela positiva, quais os momentos que
marcavam?
Foram vários. Houve um ano em que
construímos equipamentos importantes para o concelho casos da
estrada para a Isna (que não tinha uma ligação condigna à sede de
concelho), a praça, o quartel da GNR e o pavilhão desportivo. Nessa
altura visitou o concelho o então Primeiro Ministro, hoje
Presidente da república, Aníbal Cavaco Silva. Foi um ano positivo.
E agora, nesta saída de mandato, verificámos a conclusão de uma
ligação condigna à Sertã (esta da responsabilidade do Governo, mas
onde nos empenhámos) e de uma estrutura condigna para poder acolher
as pessoas que nos visitam, o Hotel de Santa Margarida.
Nestes 28 anos de
presidente de Câmara, teve que lidar com governos de várias cores
partidárias. Como é que fez essa gestão?
Nunca tive problemas. Sempre
apresentei os problemas do concelho de Oleiros fora da questão
partidária. Não tenho razão de queixa dos governos que passaram
pelo nosso país - há um caso ou outro de promessas feitas não
cumpridas -, mas não estou magoado com qualquer membro dos
governos. Sempre me relacionei bem com todos. Acima de tudo estavam
os interesses do concelho. Oleiros foi visitado por Primeiros
Ministros, ministros, secretários de Estado e Presidentes da
República de várias cores políticas.
Um dos momentos altos foi a
sua condecoração pela Presidência da República, em
2011?
Foi um momento alto da minha vida
política. Não estava à espera dessa distinção e fiquei muito
satisfeito. Penso que essa distinção foi também um motivo de
orgulho para todos os oleirenses. Guardo-a religiosamente para que
os meus netos, um dia mais tarde, possam procurar aos pais o que é
que o avô fez para poder merecer essa comenda.
Este é um prémio seu e dos
oleirenses, mas também da sua família?
Claro. A minha esposa e os meus
filhos estiveram sempre ao meu lado e tiveram que abdicar da minha
companhia. Faço 28 anos de presidente de Câmara, mas estive 16 anos
sem nenhum vereador a tempo inteiro. Às 7H30 da manhã já estava nos
estaleiros da câmara. Foi um trabalho exaustivo. Mesmo agora em 95%
dos dias sou eu que abro as portas da Câmara de Oleiros. É um
trabalho que faço com gosto. Saio de consciência tranquila. Os
oleirenses souberam reconhecer o trabalho ao darem sempre o seu
apoio.
É esse apego à sua terra
que o fez recusar o desafio que lhe foi lançado pelo PSD para se
candidatar a Castelo Branco?
Sim… também. Eu de facto fui
contactado para ser o candidato à Câmara de Castelo Branco, não só
pelas estruturas regionais do partido, mas também pelas nacionais.
Fui a Lisboa, conversaram comigo, e havia estudos de opinião. Mas
depois de ponderar bastante não quis candidatar-me a outro concelho
que não fosse o meu. E cá estou, agora a candidatar-me a outro
cargo que é o mais importante (Assembleia Municipal).