Newsletter
Subscreva a nossa newsletter

Newsletter

FacebookTwitter
Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
José Marques na reta final do seu mandato
Oleiros, 28 anos depois

IMG_5263 copy.jpgJosé Marques está a assinalar 28 anos de presidente da Câmara de Oleiros. A dois meses de deixar o cargo, dá ao Oleiros Magazine, a sua última grande entrevista enquanto líder do executivo municipal. A história aqui fica.

É autarca há mais de 30 anos, 28 dos quais como presidente da Câmara de Oleiros, qual o balanço que faz deste seu percurso?

É um balanço positivo. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance com fracos recursos, sobretudo nos primeiros anos. Mas os oleirenses é que podem avaliar o que fizemos ao longo de todos estes anos. Cumprimos tudo aquilo que prometemos. Sempre fomos uma equipa de ação, que sabia quais as obras que cada freguesia e os munícipes precisavam e desejavam. Nos primeiros anos procurámos que os oleirenses tivessem uma melhoria na qualidade de vida. Apostámos nas vias de comunicação, no abastecimento de água e eletrificação das localidades. Este trabalho foi reconhecido e ao longo destes sete mandatos tivemos sempre o apoio maioritário das pessoas.

Portanto a primeira prioridade foi dotar o concelho de infraestruturas básicas?

Sem dúvida. Eu recordo-me da primeira campanha que fiz, onde as próprias sedes de freguesia não tinham calçada. Era só lama. Com isto não quero tirar o mérito aos meus antecessores, pois cada um fez o que pôde com os recursos que tinha. A partir de determinada altura os municípios passaram a poder contar com fundos comunitários e a Câmara de Oleiros soube apostar nesses fundos, conseguindo sempre mais verbas que o inicialmente previsto. Isto porque conseguimos ter capacidade financeira para nos candidatarmos a esses fundos.

Depois dessa fase inicial, a perspetiva foi outra…

Depois voltámo-nos para os equipamentos. Aquilo que se verifica hoje por todo o concelho é a existência de infraestruturas importantes em todo o concelho, como os pavilhões e os polidesportivos existentes, as piscinas, as praias fluviais, o parque de campismo, recuperação das escolas para sedes de associações, o hotel, a zona de lazer envolvente às piscinas, o mercado, o quartel da GNR, a residência de estudantes ou a recuperação/construção de sedes de junta de freguesia, entre muitas outras obras.

O concelho de Oleiros foi dos primeiros a receber parques eólicos. Isso constituiu uma mais valia para a região?

Oleiros teve os primeiros parques eólicos da Beira Baixa. Foi um sucesso, pois os oleirenses que aí tinham terrenos puderam tirar daí dividendos vendendo-os ou alugando-os. Os parques também beneficiaram o município devido à renda que é paga à Câmara.

Uma das riquezas do concelho é a floresta. Como é que viu a evolução desse setor, depois de em 2003 ter ardido quase 50 por cento desse espaço verde?

O concelho de Oleiros, como outros com caraterísticas semelhantes - temos cerca de 70% de área em floresta - no verão assistía sempre ao drama dos fogos. Em 2003 aconteceu uma catástrofe, pois mais de 50% ardeu. Mas felizmente não sucedeu o que temíamos, que era uma saída de famílias do concelho. Devido a determinados incentivos e ao bairrismo dos oleirenses, elas ficaram. O que se verifica é que a floresta está a crescer, mas desordenadamente. As pessoas não têm capacidade financeira e o Estado não tem investido nesta área. Por isso, estou muito preocupado, assim como a Proteção Civil e bombeiros, pois houve regeneração espontânea. A floresta está desordenada. O Estado alheou-se de uma responsabilidade que também é sua. Todos nós sabemos as divisas que entram no país e no concelho através das exportações da madeira.

O verão de 2003 foi o pior problema que teve de enfrentar enquanto presidente de câmara?

Foi sem dúvida. Não só pela dimensão dos incêndios, mas pelas mortes que infelizmente ocorreram, pelo facto de mais de 50% do concelho ter ardido, e porque muitas pessoas e famílias ficaram sem habitação (muitas foram alojadas em residência de estudantes). Nessa altura, num tempo recorde, conseguimos reconstruir ou construir de raiz as habitações para todas as famílias afetadas. Nenhuma família ficou de fora.

2003 foi o ano que mais o marcou pela negativa. E pela positiva, quais os momentos que marcavam?

Foram vários. Houve um ano em que construímos equipamentos importantes para o concelho casos da estrada para a Isna (que não tinha uma ligação condigna à sede de concelho), a praça, o quartel da GNR e o pavilhão desportivo. Nessa altura visitou o concelho o então Primeiro Ministro, hoje Presidente da república, Aníbal Cavaco Silva. Foi um ano positivo. E agora, nesta saída de mandato, verificámos a conclusão de uma ligação condigna à Sertã (esta da responsabilidade do Governo, mas onde nos empenhámos) e de uma estrutura condigna para poder acolher as pessoas que nos visitam, o Hotel de Santa Margarida.

Nestes 28 anos de presidente de Câmara, teve que lidar com governos de várias cores partidárias. Como é que fez essa gestão?

Nunca tive problemas. Sempre apresentei os problemas do concelho de Oleiros fora da questão partidária. Não tenho razão de queixa dos governos que passaram pelo nosso país - há um caso ou outro de promessas feitas não cumpridas -, mas não estou magoado com qualquer membro dos governos. Sempre me relacionei bem com todos. Acima de tudo estavam os interesses do concelho. Oleiros foi visitado por Primeiros Ministros, ministros, secretários de Estado e Presidentes da República de várias cores políticas.

Um dos momentos altos foi a sua condecoração pela Presidência da República, em 2011?

Foi um momento alto da minha vida política. Não estava à espera dessa distinção e fiquei muito satisfeito. Penso que essa distinção foi também um motivo de orgulho para todos os oleirenses. Guardo-a religiosamente para que os meus netos, um dia mais tarde, possam procurar aos pais o que é que o avô fez para poder merecer essa comenda.

Este é um prémio seu e dos oleirenses, mas também da sua família?

Claro. A minha esposa e os meus filhos estiveram sempre ao meu lado e tiveram que abdicar da minha companhia. Faço 28 anos de presidente de Câmara, mas estive 16 anos sem nenhum vereador a tempo inteiro. Às 7H30 da manhã já estava nos estaleiros da câmara. Foi um trabalho exaustivo. Mesmo agora em 95% dos dias sou eu que abro as portas da Câmara de Oleiros. É um trabalho que faço com gosto. Saio de consciência tranquila. Os oleirenses souberam reconhecer o trabalho ao darem sempre o seu apoio.

É esse apego à sua terra que o fez recusar o desafio que lhe foi lançado pelo PSD para se candidatar a Castelo Branco?

Sim… também. Eu de facto fui contactado para ser o candidato à Câmara de Castelo Branco, não só pelas estruturas regionais do partido, mas também pelas nacionais. Fui a Lisboa, conversaram comigo, e havia estudos de opinião. Mas depois de ponderar bastante não quis candidatar-me a outro concelho que não fosse o meu. E cá estou, agora a candidatar-me a outro cargo que é o mais importante (Assembleia Municipal).