Newsletter
Subscreva a nossa newsletter

Newsletter

FacebookTwitter
Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Crónica
Os novos rurais

226230_1946104822145_1528283821_32057036_6382741_n.JPGA agricultura está de volta. Depois do abandono dos campos agrícolas, levando à desertificação dos solos e ao despovoamento dos territórios, com as consequentes assimetrias regionais, tão nefastas e evidentes para todos, parece que a sociedade começa a perceber finalmente que o futuro passa pela agricultura e pelo mundo rural.

O abandono dos campos agrícolas, com sérias implicações na produção nacional, levou à perda de posição estratégica de muitas das nossas fileiras produtivas. Deixámos de tirar partido dos recursos endógenos e ficámos cada vez mais dependentes do exterior, com todas as desvantagens que já todos reconhecem.

É urgente uma nova visão territorial que pense o rural e o urbano de uma forma sustentável, sempre com duas perspetivas que se complementam e que não podem viver uma sem a outra: a perspetiva local e a perspetiva global.

Os chamados "novos rurais" podem ser a solução para este problema, povoando os territórios e valorizando-os, na medida em que lhes conferem massa crítica, assim como uma maior atratividade e competitividade. São pessoas que normalmente têm uma cultura de território assente em ideias inovadoras e sustentadas, numa visão de longo prazo que reconhece a importância da agricultura para o seu país e para o seu legado.

Esta classe de novos povoadores embora tenha vivido na cidade, opta por viver no mundo rural, assumindo-se geralmente como amantes do campo. Tendem a aproveitar o melhor de ambos os mundos e levam algum do conforto que têm na cidade para o campo.

Vivemos, cada vez mais, numa aldeia global. Os "novos rurais" associam-se normalmente a jovens empreendedores que criam riqueza e trabalho, assim como valor acrescentado aos produtos gerados nos territórios rurais. O conceito "glocal" - agir local, pensar global - começa assim a ganhar mais força com produtos made in espaço rural que são depois amplamente comercializados.

Estas pessoas que importa atrair e fixar nos territórios de baixa densidade, promovem um regresso sustentável à ruralidade, estimulando o desenvolvimento económico de muitos locais que se encontram atualmente envelhecidos e deprimidos, restaurando os afetos e restabelecendo laços, assim como um sem número de outros benefícios para as populações rurais.

Por outro lado, é urgente reduzir as alarmantes assimetrias regionais que se verificam atualmente. Segundo dados da ONU, em 2015, prevê-se que cerca de 70% da população portuguesa esteja a viver nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, com toda a perda de posicionamento do Interior. Não faz sentido que um país que deveria ser encarado como o litoral europeu, cujo território continental tem uma extensão máxima, em largura, de 218 Km, verifique tão acentuadas disparidades.

A vinda dos "novos rurais" para o chamado "Interior" só poderá trazer vantagens, minimizando muitos dos problemas económicos, de mobilidade, de segurança, sociais e ambientais que se verificam ao nível nacional.

Por outro lado, os novos povoadores, para além de uma maior proximidade ao mercado espanhol (na maior parte dos casos), podem tirar partido de uma melhor qualidade de vida e recuperar algum tempo de lazer extra, valorizando muito do património edificado que se encontra ao abandono, abrindo as mentalidades dos locais onde residem e aproveitando uma panóplia de oportunidades que aí se encontram por explorar.

O empreendedorismo em meio rural é assim encarado como a solução de muitos dos problemas estruturais que se verificam na atualidade, através da promoção de fileiras das mais variadas áreas, suportadas pelas tecnologias de informação e comunicação e as quais tiram partido dos recursos endógenos existentes.

Nesse sentido, a agricultura passa a ser novamente encarada como setor estratégico, numa altura em que é consensual que Portugal tem de reduzir a sua dependência externa, por exemplo, através de iniciativas agrícolas orientadas para as novas tendências de consumo.

O futuro deverá passar então por uma maior aposta no mundo rural, equilibrando as condições de investimento existentes por todo o território. Fomentar o desenvolvimento do chamado "Interior" deverá ser encarado como uma prioridade e um desígnio nacional, concedendo benefícios a quem nele acredita.

Inês Martins
(Engenheira Agrónoma)