O fogo controlado pode ser um bom aliado na
prevenção dos incêndios florestais. A ideia pode parecer estranha,
mas uma ação realizada pela Agência para a Gestão Integrada dos
Fogos Rurais e pela Câmara de Oleiros, realizada no início de
fevereiro, demonstrou a eficácia da medida na diminuição da carga
combustível da floresta.
Esta técnica é, no entender da Agência, eficaz na limpeza de
terrenos. A ação permitiu que os proprietários de terrenos
conhecessem este método altamente eficaz numa lógica de prevenção.
A ideia é que haja grupos com formação que possam liderar futuras
ações e consequentemente proteger os povoamentos.
A formação pretendeu a credenciação de técnicos em fogo
controlado e contou com quase todas as entidades que existem no
país com responsabilidade na prevenção e combate: Bombeiros,
Sapadores Florestais, Técnicos de Associações, Técnicos da
Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa (CIMBB), Coordenadores da
Brigada de Sapadores da CIMBB, Proteção Civil Municipal, Gabinete
Técnico Florestal e Grupo de Intervenção e Socorro da GNR.
O vice-presidente da Câmara de Oleiros, confessa que tudo o
que for feito para prevenir os incêndios florestais do concelho é
positivo. E nesta matéria, em declarações à EuroNews o canal de
televisão europeu, o presidente da AGIF, Tiago Oliveira, não tem
dúvidas sobre a importância do fogo controlado: "nós temos que nos
convencer que só conseguimos estar do lado certo da equação do
risco do fogo se nos dedicarmos a gerir a vegetação. Com cabras,
com ovelhas, com caça, com fogo controlado, com maquinaria, com boa
silvicultura para fazer desbastes. Se quisermos resolver o
problema, que são as consequências do fogo, temos que ir às causas.
Isto é, garantir um reforço institucional do lado da prevenção, com
recursos para fazer prevenção, com capacidade de juntar os vários
agentes e reduzir a carga de combustível". E acrescenta: "as
pessoas têm uma
cultura de exclusão do fogo e nós temos que ser
capazes de explicar que o fogo está a trabalhar por eles no
inverno, há humidade, há frescura. Ele não está a fazer mal nenhum,
só está a queimar os arbustos. É isto que pretendemos mostrar
agora… e que daqui a 2 ou 3 dias se voltarem cá as árvores estão
bem e estão verdes".
António Salgueiro, da empresa Gestão Integrada e Fomento
Florestal (GIF), trabalha com fogo controlado há 32 anos e
compreende que "quando dizemos que vamos fazer um fogo para
controle de vegetação num pinhal em que o objetivo é diminuir o
risco mas manter os pinheiros, causa sempre algumas dúvidas".
Aquele responsável explica que "se houver um incêndio no próximo
verão aqui, ele propaga-se, mas propaga-se com alturas de chama em
que facilitam o combate com ferramentas manuais de combate direto.
Em vez de chamas com 10/12 metros de altura, teremos chamas de 50
centímetros a 1 metro de altura".
Também Albino Caldeira, proprietário de terrenos onde foi
demonstrada esta técnica, refere que "dificilmente faria a limpeza
destes terrenos manualmente por ficar demasiado
dispendioso".
Numa área de três hectares que foram consumidos pelo fogo em
2003, Jorge Antunes, proprietário vizinho, percebeu que "o terreno
fica muito mais limpo e não afeta em nada o pinhal". Deixa ainda o
conselho: "Acho que os outros proprietários também deveriam fazer
isto, porque não estraga mesmo, só vai melhorar".
António Luís, ex-comandante dos Bombeiros Voluntários de
Oleiros, é da mesma opinião: "é a única solução para o nosso
querido pinhal, as queimadas controladas". Assume-se defensor desta
técnica há vários anos e "espero que isto nunca mais pare!". A
esperança é a de que estas ações que têm decorrido no concelho,
mudem mentalidades "e que as pessoas entendam que é a solução mais
viável", termina.