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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Crónicas da terra
Primavera, paisagem, polén e espirros!

claudia.JPGÀ parte o pormenor de que todos se queixam (e com razão) de que pouco se viveram dias de Inverno, e que a Primavera chegou bem mais cedo do que deveria, a verdade é que ela realmente chegou, no calendário, a 20 de Março, no hemisfério norte. Esta é a estação do ano paisagisticamente mais interessante, por toda a beleza e explosão de vida que traz. À perceção da nossa vista, as caducifólias despidas no Inverno ganham nova folhagem, dando abrigo às novas famílias de aves, as pequenas flores surgem nos campos, formando verdadeiros tapetes floridos que despertam o nosso sentido olfativo com o aroma que é característico a cada uma das milhares de espécies existentes. Esta serenidade primaveril tornar-se-ia bem mais turbulenta se o olho humano pudesse detectar toda a actividade presente no ar. Microscopicamente, milhares de grãos de pólen circulam, transportados por aves, insectos e até pequenos mamíferos, ou simplesmente vagueiam ao sabor do vento. Anteras, deiscência, estigmas, tubo polínico, mitose, citocinese, pistilo, óvulo, saco embrionário, fertilização…termos envolvidos no complexo cenário que ocorre à nossa vista, mas que não vemos.

Infelizmente, para uma grande percentagem da população humana, esta não é a época mais indicada para passear ao ar livre e apreciar o fantástico cenário colorido. É que flores são sinónimo de pólen, e pólen é sinónimo de alergias. A chuva que habitualmente contribui para uma amenização da concentração de pólenes, tem estado ausente, e assim têm aumentado as idas às consultas de alergologia. Na região onde nos encontramos, é vulgar ouvir-se a frase " já há pó do pinheiro…", ou seja, já paira no ar o pólen das árvores que mais abundam por estas paragens. E apesar da sua alergenicidade ser considerada baixa, o problema é que há muitas destas árvores a contribuir para a sua produção. O mesmo se passa com o pólen do eucalipto. Para além destes, existem outras espécies com produção de pólen de alergenicidade elevada, tais como a oliveira, as gramíneas e erva parietária.

Há no entanto períodos do dia mais críticos em termos de contagens polínicas, e que correspondem às horas mais quentes, uma vez que os pólenes são levados para a atmosfera pelas correntes de ar quente. Quando o ar começa a arrefecer, os grãos de pólen descem para o chão, pelo que o início da manhã e o final da tarde se tornam mais seguros para quem sofre com as alergias.

Por isso, não se ponham os passeios ao ar livre de parte…feitos à hora certa, não trazem tantos problemas ao nosso sistema respiratório, para além de que são estas as horas do dia com melhor luz para tirar umas belas fotografias…fica a dica!

Cláudia Mendes
Bióloga