Crónica
Carolino ou Agulha, a escolha que faz a diferença
Como é sabido, Portugal é
um dos principais consumidores de arroz da Europa. Se ao comprarmos
este produto, seja numa mercearia de bairro, supermercado ou grande
superfície, tivermos a noção que ao optar por determinada variedade
podemos estar a favorecer o desenvolvimento económico nacional,
talvez a nossa escolha seja outra. Parece tão fácil contribuir para
o progresso do país… Um pequeno gesto, numa colectiva e benéfica
preocupação patriótica, pode fazer a diferença …
O arroz carolino corresponde à
variedade genuinamente portuguesa (por contraste, a variedade
"agulha", é originária dos países asiáticos), sendo cultivada nos
estuários dos rios Sado, Tejo e Mondego, onde a conjugação de
factores como o solo, a temperatura, o número de horas de sol e a
água, dão origem à sua singularidade.
Este é um cereal que apresenta
diferentes formatos de acordo com a variedade. "Carolino"
caracteriza-se por possuir um bago branco, curto e gordo, com maior
poder de absorção dos sabores e um baixo teor de amilose (um dos
componentes do amido). Depois de cozido, o grão fica solto, boleado
e envolto num molho cremoso e aveludado.
Tradicionalmente, o arroz carolino
é empregue em receitas típicas de carne (como o arroz de cabidela,
de miúdos ou de pato); de peixe (como o arroz de Tamboril),
eventualmente, de marisco ou de legumes (cozinhado com tomate,
feijão, pimentos, favas, ervilhas, coentros ou grelos). Esta
variedade é ainda empregue em enchidos (como a morcela de arroz ou
os maranhos do Pinhal) e em conhecidas sobremesas (veja-se o caso
do arroz doce).
Apesar das suas reconhecidas
vantagens nutricionais, o facto de o arroz carolino requerer
maiores exigências na cozedura, faz com que seja normalmente
preterido face ao arroz agulha, de origem asiática. Assim, é comum
dizer-se que "o arroz agulha é o arroz utilizado por pessoas menos
experientes na cozinha".
Sabendo que o arroz alimenta mais
da metade da população humana do planeta, sendo a terceira maior
cultura cerealífera do mundo (apenas ultrapassado pelo milho e o
trigo), será importante verificar que Portugal é autossuficiente na
produção de arroz do tipo "carolino", pelo que valeria a pena
apostar a sério na sua produção.
Um aumento no consumo da variedade
portuguesa de arroz poderia fomentar a economia nacional. A solução
prende-se com a valorização do produto, através da elaboração de
estratégias para esta fileira que passam por uma promoção eficaz
junto dos consumidores portugueses. Estes são apenas alguns dos
aspectos a desenvolver no imediato, se nos queremos afirmar tirando
partindo das nossas potencialidades.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma