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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Dezembro 2024 nº93 Ano XXIII
Cambas
Um lagar com história

LagarCom instalações na Freguesia de Cambas, pelo facto da Portela do Armadouro dividir território entre dois concelhos vizinhos, o lagar da Sociedade de Olivicultores da Serra Lda é um caso de sucesso desde 1981.
O lagar de azeite, que abriu portas em 1981, nasceu de um sonho de um jovem com 19 anos que por volta de 1965 estava ao serviço na Companhia Elétrica das Beiras (agora de denominada EDP). Nessa altura, o presidente da Liga de Melhoramentos de uma aldeia de Pampilhosa da Serra, solicitou ao seu chefe, Mascarenhas de Lemos, um funcionário daquela empresa para fazer a ligação de um motor elétrico no lagar que havia sido reconstruído com a sua movimentação da água para eletricidade. Não podendo o lagar estar parado, o rapaz destacado com capacidades e mãos hábeis, colocou o lagar a funcionar movido a eletricidade. Houve festa na aldeia que se estendeu até madrugada como se de um milagre se tratasse.
Nesse dia, o autor do feito, António Mendes, fez uma promessa a si mesmo de abrir, no futuro, um lagar.
Nascido na aldeia de Esteiro há 78 anos, concelho de Pampilhosa da Serra, António Mendes concretizou o sonho décadas mais tarde. O lagar da Sociedade de Olivicultores da Serra Lda, detida pela família Mendes, está instalado na Freguesia de Cambas, concelho de Oleiros. “O local foi escolhido por confinar com vários municípios, o de Pampilhosa da Serra, de Oleiros e do Fundão, bem como estar servido por estradas”, explica aquele que é um dos maiores empresários com atividade na Freguesia de Cambas, a quem muitos se dirigem entre outubro e janeiro para entregar a azeitona apanhada e a transformar em azeite.
Antonio MendesEste ano, repetiu-se o mesmo cenário de outros anos. O lagar da Portela do Armadouro voltou a ser procurado por centenas de pessoas, numa média de 6.000 clientes. A receção de azeitona também atingiu a média por campanha, ou seja os 2.500.000 quilos, com capacidade de extração  de 5.500 quilos por hora, tratada em sistema em linha contínua, o que permite que a azeitona que o cliente entrega é aquela que dá origem ao azeite que é levado pelo mesmo produtor.  
A campanha de 2024 “correu da melhor forma” no lagar da Portela do Armadouro. António Mendes considera que há mais azeite a ser produzido. “Vejo que as famílias estão a cuidar do seu olival e claro que oliveiras tratadas produzem mais, inclusivamente existem clientes que me vêm questionar qual o melhor trato a proceder ao seu olival”. Por outro lado, “há pessoas que regressam às aldeias para ajudar na apanha o que considero de extrema importância para que esta atividade não se perca”, acrescenta.
As aldeias de Cambas voltaram a receber os filhos da terra, vindos de vários lugares do país e do estrangeiro, porque a época da apanha da azeitona é sinónimo de férias nos olivais quando a “azeitona pinta”, como diz o ditado popular.   
À porta do lagar da família Mendes formaram-se em outubro e novembro filas de horas e horas de espera, tal foi a procura. “Temos clientes que vêm dos concelhos da Covilhã, Fundão, Góis, Arganil, Oleiros, Castelo Branco e Pampilhosa da Serra, gente que regressa de ano para ano, o que nos gratifica porque é sinal que partem daqui satisfeitos com o nosso trabalho”, refere António Mendes. Tal é a procura que embora o horário da receção da azeitona compreenda o período das 8 horas às 17 horas, “tivemos aqui noites inteiras a trabalhar para que o cliente pudesse ter o azeite no mesmo dia ou no seguinte”.
No lagar, de onde já saíram este ano cerca de 310 mil litros de azeite, trabalham cinco pessoas durante a época da azeitona, quatro delas em permanência no resto do ano.  
Lagar2O lagar não é a única ocupação da família Mendes que tem produção própria de azeite com a marca “Entre Serras” e investimentos na área da construção civil e eletricidade na zona de Lisboa, na Guiné-Bissau e Moçambique e uma oficina de automóveis. Um conjunto de investimentos, segundo António Mendes, “criados com muito sacrifício próprio, quase sem ajudas. Tal como o lagar que foi construído e tem vindo a ser melhorado sempre com recursos próprios”.
Com formação escolar incompleta no Liceu de Castelo Branco “porque era preciso ir trabalhar e assim continua. Não sei o que é estar sobre uma toalha de praia”, diz a sorrir. António Mendes define-se como um homem de trabalho e não sabe quando vai parar. “Temos uma destilaria em montagem para abrir e um alojamento com capacidade para 12 quartos para construir na área do lagar. Queremos agradecer ao Município de Oleiros pelo apoio que nos tem dado ao referido investimento”, adianta o empresário.  
“Aproveito para um agradecimento aos Municípios de Oleiros e Pampilhosa da Serra e como não poderia deixar de ser, um bem haja aos nossos clientes, tal como me levou a construir um lagar há anos atrás, é meu propósito continuar a oferecer-lhes um azeite com qualidade”, concluí.