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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Abril 2025 nº94 Ano XXIV
João André é o rosto do projeto
O renascer da Casa Fernandes

62588890_10213666420717456_2771111426205417472_o.JPGA "Casa Fernandes" inicia a sua atividade nos anos 30, com o seu principal impulsionador "Augusto Fernandes", um homem com uma visão à frente no seu tempo, que construiu uma fábrica de resina. Foi um dos maiores empregadores do concelho de Oleiros. A floresta, com a resina, a agricultura e o setor imobiliário foram as áreas chave desta Casa que agora está a ganhar uma nova força. João André é o rosto dessa ambição e mudança, apostando na produção de azeite e no setor florestal. Mas a empresa investe ainda na aquisição de terrenos e no setor imobiliário.
Em entrevista, respondida por email, João André mostra-se satisfeito com a aposta. Trocou o emprego no Estado pelas rédeas da empresa e determinação é algo que não lhe falta. Aqui ficam as perguntas e as respostas.

A produção de azeite tem sido uma das imagens da casa Fernandes que mais tem chegado à opinião pública. Quais as mais valias do vosso azeite?
É na produção de azeite que achamos que pode estar a principal aposta. Primeiro porque tínhamos a base, que são os terrenos para plantação de novo olival, depois porque temos uma variedade que é a azeitona galega que foi recentemente reconhecida como uma das melhores do mundo. E por fim, trabalhamos o azeite ainda de forma tradicional, ou seja, apostamos na inovação do Lagar na receção e transporte da azeitona, mas ainda com prensas, e um mestre lagareiro. Ou seja, tiramos partido de toda a pureza e qualidade da azeitona, que por decantação permite separar o azeite da água, por diferença de densidade dando ao azeite um sabor inconfundível e diferente na minha opinião, daquilo que se produz no mercado. Temos, no fundo, um azeite puro.

Para além das vossas marcas, o lagar também produz para os produtores locais?  
Sim, para além das nossas marcas, continuamos a realizar a prestação de serviços aos olivicultores, mas também dinamizando a economia local, adquirindo azeitona que cumpra os requisitos à porta do lagar. É uma forma de ajudar o pequeno produtor a escoar o excesso do seu produto que é cada vez mais para consumo próprio e a aumentar significativamente a nossa produção, tendo já na última campanha adquirido cerca de 40 toneladas e prestando serviço a mais de 200 clientes. Ainda existe na nossa região a cultura, e bem, de as pessoas irem ao lagar moer a sua azeitona, e nós fazemo-lo respeitando todas as regras de higiene e segurança alimentar, com a vantagem de o cliente levar o azeite da sua própria azeitona!

Os incêndios destruíram o vosso lagar, propriedades... como é que houve coragem para não desistir?
Não foi fácil…Não é fácil para quem tinha já um investimento considerável e um caminho definido ver tudo esfumar-se num ápice! Foram destruídos milhares de oliveiras, centenas de hectares, e ainda a zona de receção do Lagar. O não deitar a toalha ao chão foi pensar essencialmente na continuação de um sonho, e de não deixar para as minhas filhas os problemas de um abandono precoce. Foi uma questão também emocional. Agarrá-mo-nos com todas as nossas forças e passado uma semana já estávamos a trabalhar na recuperação dos bens afetados e na renovação do lagar. Tenho 36 anos e consegui arranjar coragem. O que mais me custava eram as pessoas, que já de idade avançada me questionavam, onde iriam arranjar forças para recuperar o que construíram numa vida inteira! Aí, por mais que quisesse, ficava sem resposta para dar!
Ainda hoje recordo os gritos das populações ao acordarem de dia e verem o que o fogo precocemente lhes tirou. São marcas que ficam, e só quem passa por elas sabe do que estou a falar.

O que é que o levou a abandonar o seu emprego no Estado e a apostar na Casa Fernandes?
O que me levou a abandonar o meu emprego? É uma questão que muita gente me faz! Tinha um emprego estável, e saí para arriscar num projeto muito pessoal! Como deve calcular não foi uma decisão fácil nem unânime na família! Mas eu não podia abandonar a "Casas Fernandes", e sabia que só uma dedicação a 100% poderia mudar o rumo e realizar todos os meus objetivos para o caminho projetado. Quero muito deixar mais do que encontrei, colocar esta empresa no lugar que eu acho que deve e merece estar, poder um dia, em algum lado encontrar as pessoas que a lideraram, agradecer, e dizer que tive sucesso. No fundo é uma questão de amor e paixão por uma causa, por um sonho! Uma aposta que acreditava e acredito que vai dar certo!


O facto de estarem no interior do país, obriga-vos a um esforço redobrado para colocarem os vossos produtos?
Sim, é um facto! A interioridade ainda descrimina a nossa progressão. Encontrei clientes no litoral que me questionaram se produzíamos assim no interior! Isso deixa-me triste, mas com uma vontade de cada vez mais mostrar o que de melhor fazemos. Existem questões em que a equidade de oportunidades deveria ser igual, mas não podemos vitimizar-nos. Por vezes somos olhados como os coitados que moram lá na parvónia e isso não corresponde à verdade! Temos muita gente com capacidade e conhecimentos, do melhor que se encontra no país. Temos que nos deslocar e bater às portas para que essas oportunidades possam surgir e agarrá-las com unhas e dentes. Estamos fisicamente mais perto, mas temos um trabalho de fundo ainda a fazer, o que nos obriga a esforços redobrados, expandindo os nossos horizontes e não colocando limites.

67738431_10213832706994509_2555898217094971392_o.JPGDefende medidas de discriminação positiva para os territórios e empresas situadas no interior do país?
O que eu defendo é uma igualdade de oportunidades. Agora, é claro que os custos de portagens, transportes, impostos e visibilidade têm um peso completamente diferente para uma empresa do litoral e outra do interior. Tal como, com a Espanha aqui ao lado, continuamos sem uma ligação que nos permita chegar mais rápido à entrada da Europa. Não defendo retirar do litoral para o interior, defendo uma política de atração de empresas e criação de postos de trabalho, o emprego é o polo central de tudo o resto. Defendo também uma união dos municípios do interior. São estes que estão mais perto da população, conhecem as suas necessidades e que podem, em conjunto, trabalhar medidas e reivindicar os anos de atraso a que temos vindo a ser sujeitos por parte do poder central! Sem emprego, tudo o resto me parece, um pouco, uma utopia generalizada.

Neste momento qual é a área de terreno que a casa Fernandes possui no concelho e que é utilizada no setor agrícola e florestal?
Neste momento a "Casa Fernandes " tem cerca de 30 hectares de Olival novo totalmente da nossa oliveira galega! Quanto à área florestal, temos muita área, mas nos últimos dois anos foram adquiridos cerca de 40 hectares de Pinhal. Continuo a acreditar no pinho, mas temo a sua extinção face aos incêndios que cada vez mais nos assolam!

Quais os projetos futuros da Casa Fernandes?
O principal projeto da "Casas Fernandes" passa por a internacionalização da marca nos próximos três anos. Queremos chegar aos quatro cantos do mundo, e posso adiantar que já tivemos contactos de Angola e Brasil, mas neste momento a nossa produção ainda não nos permite chegar a esses mercados. A participação em feiras internacionais está também no nosso horizonte, como em concursos nacionais, apesar de a opinião dos nossos clientes ser o que realmente conta para nós. Na floresta, investir no que consideramos bons negócios que potenciem esta nossa riqueza, e no imobiliário passa por um investimento maior na zona da grande Lisboa.
Nós consideramos o nosso potencial humano que são os nossos trabalhadores como um bem essencial. Sem eles nada era possível. Queremos criar postos de trabalho e não tenho duvidas que ao ritmo de crescimento, nos próximos três anos eles vão aumentar.  Temos dois postos de trabalho permanentes, mas chegamos sazonalmente a empregar 15 pessoas.