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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Luto: realidade necessária e desafiadora
aa.jpgO livro Luto: Realidade Necessária e desafiadora, vivências e interpelações  pastorais na zona do Pinhal Interior Sul, vai ser apresentado no próximo dia 1 de novembro, no auditório da Casa da Cultura de Oleiros, pelas 17H30. A obra, da autoria do pároco José António Gonçalves, natural da Roda, concelho de Oleiros, constitui um excelente instrumento de análise de um tema de que não é fácil falar. 
Neste livro, editado pela RVJ Editores com alto patrocínio da Câmara de Oleiros, que suportou os custos de produção, o autor aborda o tema nos concelhos de Oleiros, Sertã (onde também foi pároco), Proença-a-Nova e Mação. "A Zona do Pinhal Interior Sul é uma realidade interessante ao nível das vivências comunitárias do luto e dos gestos comunitários de ajuda no luto, onde se cruzam a religiosidade popular, o sociológico e a antropologia cultural", explica na sua nota introdutória.
José António Gonçalves, que atualmente desempenha as funções de pároco in solidum da Paróquia de S. Miguel da Sé, São José Operário e Benquerenças, e de Arcipestre do Arciprestado de Castelo Branco, refere na mesma nota introdutória que se notam "muitas alterações nesses gestos e vivências resultantes do êxodo da população mais jovem, do incremento das vias de comunicação, da mudança de mentalidades face à morte e ao luto. Abandonam-se mais aspetos que exteriorizam os tempos do luto e nos centros maiores nota-se um maior individualismo na vivência da dor". 
O autor revela mesmo que "em alguns casos, já quase dá a sensação que se pode viver e morrer sem que ninguém dê conta. Nas aldeias o sentido da solidariedade está ainda muito presente. Para estas mudanças contribui também a presença dos agentes funerários e a existências de capelas ou casas mortuárias em quase todas as localidades".
O livro é o resultado do trabalho de mestrado desenvolvido por José António Gonçalves, e surge dividido em três capítulos. "No primeiro procuramos definir o que é o luto: o que o constitui, como se manifesta, como se caracterizam essas manifestações, as diferentes reacções, as recusas, os tipos de luto, as diferentes reacções. Servindo-os de exemplos práticos de situações de luto com que nos deparamos", esclarece.
No segundo é feita uma "descrição das vivências do luto na Zona do Pinhal Interior Sul, sem querermos ser exaustivos. Apresentamos ainda neste capítulo um inquérito, sobre o luto, sentimentos, vivências e presença, feito também nesta zona no início do ano de 2010".
Finalmente, no terceiro exploramos esta temática como realidade que todos temos que viver e diante da qual não podemos ficar indiferentes. Abordamos as tarefas do luto, o que fazer para ajudara pessoa ou a família em luto, e importância de perceber o fim do luto. Damos, ainda, algumas sugestões pastorais no que se refere ao acompanhamento de pessoas em luto. No final deste trabalho acrescentamos alguns anexos, com intuito de documentar e apoiar na compreensão daquilo que descrevemos".
Na sua nota introdutória, José António Gonçalves explica que "o luto é uma experiência dilacerante, que toca toda a estrutura humana, física, psicológica, familiar, social, espiritual. É um processo que geralmente parte da negação, passa à revolta, à tristeza/depressão e termina na aceitação. Não quer dizer que aconteça assim com todas as pessoas, depende da pessoa que falece, da ligação a ela, da idade, das circunstâncias da morte, etc… E como o luto é um processo, não deve transformar-se num estado patológico, o que por vezes acontece. Algumas pessoas necessitam de ajuda extra para conviver com a fase do luto. Esse suporte pode ser fornecido por pessoas treinadas, seja de agentes da saúde, seja de voluntários ou até da própria comunidade".
O pároco dá mesmo um exemplo: "um cônjuge que viveu 50 anos ou mais com o seu par que era tudo na sua vida e fica só e abandonado, é natural que a pessoa não saia mais do luto que desespere e lute pela outra pessoa, procurando-a na memória, no seu espaço, na saudade, e não a queira "deixar" de nenhuma forma. É um luto que é uma luta consigo próprio".
Mas, diz-nos o autor, "o luto não tem só a ver com morte, mas com uma perda. O distanciamento de uma pessoa querida ou amiga por várias circunstâncias, o fim de uma relação amorosa também provocam luto pela negação, revolta, tristeza e passa-se por um processo semelhante. O importante é ultrapassar a perda e recuperar a motivação de vida e conseguir que a esperança nos transporte a um novo dia, porque muitos enlutados correm o risco de viver uma eterna noite".