Alterações climáticas
Meia-estação…segundo o dicionário da língua
portuguesa referimo-nos ao Outono ou à Primavera quando proferimos
esta palavra. Estação em que o frio e o calor não são rigorosos.
Para a grande maioria das pessoas, estas são as estações do ano
preferidas…o calor do sol, não sendo abrasador, chega para nos
aquecer e andarmos ainda leves, sem termos que recorrer aos pesados
casacões de Inverno. Todos sabemos o que é a meia-estação, mas a
questão que agora se coloca é "será que os nossos netos (ou até
mesmo os nossos filhos) saberão daqui a uns anos a que nos
referimos? Pensarão que estamos a falar de um Verão ou Inverno
cortados ao meio?". Este ano tivemos já o claro exemplo do que é um
ano dividido apenas por duas estações…de um Verão que se prolongou
até Novembro passámos para temperaturas pouco confortáveis e chuva
intensa. Hoje saímos à rua e transpiramos com 30ºC, amanhã ficamos
em casa de lareira acesa a ver a chuva lá fora…pelo meio, nenhum
dia de meio-termo para nos adaptarmos à brusca transição!
Esta era uma situação já prevista há
alguns anos, quando, ainda na década de 80, governantes e
cientistas iniciaram uma série de reuniões de debate face às
mudanças climáticas, tendo a consciência que estas eram
consequência da acção humana sobre o planeta. Esperava-se já que a
crescente emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera,
verificada desde o início da era industrial, viesse a produzir
efeitos nocivos passados largos anos ou mesmo séculos (como
realmente se verificou), e que teriam que ser tomadas medidas para
que os padrões de vida moderna não comprometessem o estado de saúde
do nosso planeta azul.
O Protocolo de Quioto veio
estabelecer limites legais às emissões dos países industrializados,
impondo a meta de uma redução global de 5% no período 2008-2012,
relativamente aos níveis verificados em 1990. No entanto, não há
nada a fazer em relação ao mal que foi feito durante tanto tempo, e
não é possível evitar totalmente o impacte das alterações
climáticas, mesmo que fosse possível uma drástica e imediata
redução das emissões globais de gases com efeito de estufa. De
facto, lidamos já com algumas consequências que se reflectem em
vários sectores sócio-económicos. Para além dos problemas
relacionados com a saúde humana provocados pelas cada vez mais
usuais ondas de calor, e proliferação de insectos vectores
transmissores de doenças, lidamos já com eventos climáticos
extremos que aumentam a sua frequência. Alguns locais do globo
enfrentam grandes tempestades de precipitação intensa e tornados,
enquanto que outras zonas sofrem o risco de períodos de seca
prolongados. A nível energético, verifica-se também um aumento
geral dos gastos…basta pensar na factura energética de cada um de
nós que reflecte bem o aumento das necessidades de arrefecimento
dentro das nossas casas. Mais importante ainda é o grande impacto
nos ecossistemas. As zonas costeiras sofrem com a subida do nível
do mar, enquanto que os rios perdem qualidade na água, afectando os
recursos pesqueiros. A longo prazo, irá verificar-se perda de
biodiversidade, face à inadaptação das espécies ao aumento da
temperatura média global. A agricultura sofrerá mudanças no tipo de
culturas devido à escassez de água para irrigação e o funcionamento
e composição das florestas também será afectado, com o aumento de
pragas e doenças que conduzirá à redução da produtividade
florestal, e claro, como já este ano sentimos, com o aumento dos
incêndios florestais, com os quais não temos de lidar apenas no
Verão, mas também até meados do Outono…essa meia-estação em vias de
extinção!