Investigação revela antiga glaciação
Mais de 400 milhões de anos de história descobertos no concelho de Oleiros
Fósseis marinhos, com idade compreendida
entre os 444 e os 467 milhões de anos, foram descobertos numa área
localizada entre as povoações de Cambas e Orvalho, durante
trabalhos de investigação coordenados pela paleontóloga Sofia
Pereira, da Universidade de Coimbra. Os trabalhos de campo
decorreram entre 4 e 7 de outubro numa área que é parte integrante
do Geopark Naturtejo e os fósseis encontrados "correspondem ao
período Ordovícico Médio a Superior", como explica a autarquia de
Oleiros.
A investigação teve o apoio do município daquele concelho do
Pinhal, da Naturtejo e deverão ter continuidade com o apoio da
Junta de Freguesia de Orvalho, localidade que deverá acolher um
Centro de Interpretação, onde ficarão reunidos alguns dos fósseis
agora descobertos e que no futuro venham a ser encontrados.
Em nota enviada ao Oleiros Magazine, a autarquia explica que esta
investigação conta com a participação de Carlos Neto Carvalho,
diretor científico do Geopark Naturtejo (o primeiro a ser criado em
Portugal e a ter a chancela da Unesco). Nessa área terá sido
identificada "a ocorrência de faunas onde abundam diferentes
espécies de trilobites e de minúsculos crustáceos ostracodos,
braquiópodes, bivalves, equinodermes, briozoários, entre muitos
outros".
De resto, Carlos Neto Carvalho já tinha descrito fósseis que datam
de há quase 480 milhões de anos. Ao Reconquista, a autarquia
explica que os trabalhos agora realizados permitiram descobrir
"novos sítios paleontológicos, incluindo fósseis de braquiópodes
nunca antes identificados em Portugal". O Município justifica esta
declaração na palavras de Jorge Colmenar, especialista espanhol a
trabalhar na Universidade de Ghent, na Bélgica.
A autarquia recorda que os investigadores
"detetaram evidências de uma antiga glaciação que sucedeu há 450
milhões de anos e que levou à segunda maior extinção em massa de
sempre, com o desaparecimento de 85% da vida marinha de
então".
A mesma nota esclarece que as pequenas "rochas calcárias, com uma
enorme diversidade de pequenos fósseis muito bem preservados,
permitem identificar um período de rápido aquecimento global que
poderá ter despoletado a glaciação ordovícica". E acrescenta:
"estas são evidências de alterações climáticas do passado que nos
podem ajudar a prever cenários para um futuro próximo do nosso
planeta".
O território onde hoje está o concelho de Oleiros terá sofrido uma
glaciação. Diz o Município que "nas Portas do Muradal, próximo de
Vilar Barroco foram encontrados, entre rochas muito deformadas por
colisões de continentes, restos de fósseis bem preservados de uma
fauna com características incomuns para a sua idade".
Os trabalhos de investigação vão prosseguir na Serra do Moradal e
prevê-se que os primeiros resultados possam ser publicados no
início do próximo ano, na revista Geoconservation Research dedicado
aos fósseis dos Geoparques UNESCO europeus.
Outras áreas que se revelaram ricas em fósseis destas idades
incluem o Monumento Natural das Portas de Ródão, a Serra do
Perdigão e a Herdade de Vale Feitoso.