Opinião
As hormonas… E o Outono!
Chegou o outono e, tipicamente, as
árvores caducifólias ganham progressivamente os tons amarelos e
laranjas tão característicos das paisagens naturais nesta estação
do ano. Depois do espetacular quadro cromático com que nos
presenteiam, acabam por ficar despidas de folhas, com troncos e
galhos expostos ao frio do inverno. Apesar da paisagem ficar mais
tristonha, não nos choca, pois sabemos que este é apenas um
processo adaptativo destas plantas para enfrentar as baixas
temperaturas. Os dias mais curtos, com menos luz solar, obrigam a
uma redução da fotossíntese e, tal como os animais que têm
necessidade de hibernar, também estas árvores entram num período de
dormência, por forma a evitar gastos de energia e poupar as
reservas alimentares acumuladas no período em que as horas solares
foram mais abundantes. Este processo, aparentemente simples, é na
realidade resultado da ação conjunta de substâncias produzidas nas
células vegetais, as fito hormonas, das quais se destacam 5 grupos
principais: auxinas, citocianinas, giberlinas, etileno e ácido
abscísico. De uma forma simplificada, podemos dizer que as três
primeiras promovem o desenvolvimento das várias partes da planta e
estimulam a multiplicação celular. Antagonicamente, o etileno
provoca o amadurecimento dos frutos e induz a abscisão (perda) das
folhas e o ácido abscísico provoca a iniciação e manutenção do
estado de dormência de sementes e gomos, sendo responsável também
pelo fecho dos estomas das folhas. Há de facto uma correlação entre
os níveis de ácido absícísico, auxinas e etileno. A presença do
primeiro promove a diminuição da auxina, diminuição essa que
provoca o aumento da produção de etileno. As folhas envelhecidas
perdem a capacidade de síntese de auxina, o que faz com que seja
também nesta fase que os níveis de etileno subam nas células do
pecíolo das folhas, provocando o rompimento das paredes celulares,
fragilizando esta parte da folha que, às primeiras rajadas de vento
e chuva do outono, acabam por se desprender da árvore e cair. Já o
facto das folhas que caem serem amarelas, cor-de-laranja e
avermelhadas deve-se ao fecho dos estomas da folha, também por ação
do ácido abscísico, reduzindo a fotossíntese e consequentemente a
diminuição de organelos com clorofila, de cor verde, mais dominante
do que os restantes cromoplastos que co-existem nas folhas, e que
desta forma se conseguem evidenciar. A função destas folhas,
contudo, não acaba aqui...ao cair no solo transformam-se em
nutrientes que o enriquecem e que são absorvidos não só pela
própria árvore como por outros seres vivos, num fenomenal processo
de reciclagem. E mais uma vez, Lavoisier não perde a razão quando
afirma que "na Natureza nada se cria, nada se perde…tudo se
transforma".