Opinião
O mel de medronheiro
Tal como nos vinhos
existem os monocásticos, também nos méis se considera a categoria
dos monoflorais, uma classificação bastante valorizada e obtida
quando o mel é produzido a partir do néctar de uma única espécie
floral.
Como se sabe, o sabor, o aroma e a
cor deste produto natural variam segundo a origem botânica do
néctar recolhido pelas abelhas. Os méis escuros, por exemplo,
costumam ser mais ricos em minerais e possuem aroma e sabor mais
acentuados. Os claros podem não apresentar tantos minerais, tendo
um sabor mais suave.
Dentro dos méis monoflorais, existe
um que se produz bastante bem na região: o mel de medronheiro,l
derivado de uma espécie pertencente à família das Ericácias (da
qual fazem parte as urzes), a qual está na origem de uma
significativa parte da produção de mel a nível nacional.
Em termos organoléticos, o mel de
medronheiro tende a apresentar uma tonalidade verde acinzentada,
mais escura do que os de urze, possuindo um apreciado e intenso
odor caraterístico de outono (a lembrar húmus). Em termos de
paladar, este exibe um pronunciado e persistente sabor amargo que
domina sobre o típico doce dos méis.
Já no que se refere às suas
características físico-químicas, estudos revelam que para além de
uma acidez elevada, o teor em humidade tende a ser alto,
frequentemente acima dos 19%, já que o néctar é recolhido pelas
abelhas numa época em que o fotoperíodo e a temperatura são
menores, o que atrasa a maturação do mel.
O medronheiro é uma planta que disponibiliza muito
néctar mas pouco pólen. Assim, é aceitável considerar-se que o mel
monofloral que se obtém dos cachos pendentes de pequenas flores
desta espécie possua um teor de pólen perto dos 8% (o que contrasta
com outros méis monoflorais, como o mel de castanheiro que verifica
um teor de pólen na ordem dos 90%).
O mel de medronheiro possui ainda
um alto teor antioxidante, bastante apreciado nos dias de hoje, a
exemplo de um outro mel monofloral, o mel de alfarrobeira. É
indicado para combater constipações, problemas respiratórios e de
fígado, assim como para cicatrização de feridas ou como tonificante
muscular, devido à sua riqueza em determinados minerais.
Uma outra vertente a ter em
consideração é a polinização do medronheiro feita pelas abelhas
(Apis mellifera), a qual pode ter efeitos muito benéficos no
tamanho, quantidade e qualidade dos frutos. Desta forma, pensar
numa estratégia concertada entre a fileira do mel e do medronho,
apresenta-se como um oportunidade promissora e vantajosa para ambas
as partes.
A valorização deste produto através
da sua obtenção em Modo de Produção Biológico será outro aspeto a
ter em conta, uma vez que o medronheiro é uma espécie muito fácil
de produzir biologicamente, dado que não apresenta relevantes
problemas fitossanitários.
Concluindo, o incremento da
produção de mel de medronheiro no território pode revelar-se
bastante interessante não só pelos já referidos benefícios
associados à polinização do medronheiro pelas abelhas, ou pela sua
facilidade de obtenção e valorização através de um Modo de Produção
Biológico, mas acima de tudo, devido à sua característica
diferenciadora: o sabor amargo. Este é um mel cada vez mais
apreciado como produto gourmet, nomeadamente no mercado
internacional. Com aplicações culinárias inovadoras, alia a sua
acidez a um certo travo adstringente, pelo que se combina de forma
sublime com alimentos ricos em gordura e começa a aparecer com
frequência a incorporar requintados molhos.
Inês Martins
Engenheira Agrónoma