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Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Crónica
A árvore que deve o seu nome ao rio
ines copy.jpgA árvore do momento: o Azereiro, uma das relíquias da floresta Laurissilva que resistiu às últimas glaciações, encontra a maior concentração da Europa de indivíduos desta espécie em Oleiros. Estes exemplares que habitam o Vale do Zêzere, a norte do concelho, representam verdadeiros fósseis vivos da floresta que existiu há milhões de anos. Podemos encontrar estes autênticos monumentos naturais na Mata d´Álvaro ou no Vale das Fragosas, junto às cascatas da Fraga da Água d´Alta (ou d´Alto).
Mas o aspeto curioso que gostaria de realçar sobre esta espécie autóctone e rara, prende-se com a sua ligação ao nome do rio Zêzere, cujo étimo parece vir de "zezereiro", "zenzereiro" ou "azereiro". Recorde-se que a espécie Prunus lusitanica corresponde a uma árvore de pequenas flores brancas e frutos negros que abundava nas margens deste rio exclusivamente português, facto que provavelmente se correlaciona com o seu hidrónimo.
Em 1629, Miguel Leitão de Andrade, descendente da mais antiga e nobre família de Álvaro, a propósito do rio, escrevia "…chamando-se Ozeraco e agora Zênzere…" , o que nos dá uma hipótese para a evolução do nome do rio e nos faz deduzir que do séc. XVII até aos dias de hoje o nome do rio tenha ainda evoluído de "Zênzere" para "Zêzere".
O mesmo autor, referindo-se à árvore em causa, escrevia "…o zenzereiro, árvore a quem o rio deu o nome, por se criar somente nelle grande copado, de folhas muito verdes de feição de louro, cujas flores são brancas, e de feição de cacho de uva em flor…". Neste trecho da obra de Leitão de Andrade, é sugerido que foi o rio que deu o nome comum à árvore, a qual era abundante nas suas margens e encostas. 
Esta tese é também defendida em 1881, pelo oleirense D. João Maria Pimentel, autor do livro Memórias da villa de Oleiros e do seu concelho. Pimentel referia na sua obra que "são próprias das encostas d´este Rio, do qual derivão provavelmente o nome as árvores chamadas azereiros, bellas pela sua forma redonda e copada, sem nunca perderem a folha, e agradáveis pelo aroma de seus abundantes caixos de flores brancas". 
A origem do nome do rio e da árvore não é um tema consensual. Existem várias teses que defendem que foi a árvore que deu origem ao nome do rio. Fica-nos a dúvida: "quem" deu o nome a "quem"? Certo é que há uma indubitável ligação entre o nome comum da espécie e o nome do rio.
Inês Martins (Engenheira Agrónoma)