Oleiros e Pampilhosa da Serra
Medronho vira negócio
A plantação de medronheiros tem vindo a crescer na
região Centro por iniciativa de produtores que procuram
diversificar as aplicações do fruto, desde o fabrico de aguardente
ao consumo do medronho em fresco.
Na Pampilhosa da Serra e em
Oleiros, o pequeno fruto vermelho deste arbusto ("Arbutus unedo")
sempre foi colhido para fazer aguardente, após fermentação de dois
a três meses.
O medronheiro integra a vegetação
autóctone de várias regiões de Portugal, como os territórios de
baixa densidade demográfica do Centro.
Nas últimas décadas, o fabrico de
aguardente medronheira prosperou, sobretudo no Algarve.
Só que o negócio passa muito pela
compra do fruto ou da massa, após fermentação, a produtores das
Beiras que se limitam a colher o medronho silvestre nas serranias
de xisto.
Em Oleiros, Jorge Simões disse à
Lusa estar a efetuar a terceira colheita, numa área de 15 hectares
de medronheiros, plantados há oito anos, devastada pelo fogo em
2003.
No ano passado, obteve 30 tinas,
com uma capacidade de 120 litros, de massa, prevendo atingir as 100
unidades nesta safra. Vende toda a produção a uma destilaria de
Seia.
Uma cliente de Arganil acaba de lhe
encomendar 200 quilos de medronho para compota.
"Temos o ouro ao pé de casa",
afirma o ex-jornalista Jorge Simões, que já teve também uma
suinicultura.
Mas agora, aos 72 anos, ele é um
assumido entusiasta do medronho.
Na Pampilhosa, José Martins explica
à Lusa que o medronheiro "é uma planta que se dá bem aqui e que à
partida oferece grande rentabilidade económica, desde que seja
trabalhada com alguma escala".
Tinha sete anos quando deixou a
aldeia natal, Signo Samo, acompanhando os pais e os irmãos para
Lisboa, onde ainda trabalha no ramo imobiliário.
Na década passada, decidiu dar nova
utilização aos terrenos da família.
Em 2005, um incêndio destruiu
pinhais e eucaliptais na zona, o que incentivou ainda mais a sua
simpatia pelo medronheiro. Hoje tem 36 hectares.
"Havia necessidade de ocupar o solo
com uma cultura que não necessitasse de muito trato", recorda.
Vizinhos e família diziam-lhe que,
"sem ter grande trabalho", poderia obter os medronhos a partir das
árvores espontâneas.
Mas José Martins prefere "uma
plantação organizada e limpa".
Criou a empresa Lenda da Beira para
comercializar aguardente e outros "produtos com história", como o
vinho e o azeite.
Através de um projeto de jovem
agricultor, apoiado pelo Estado, tem vindo a aumentar a área de
medronhal e já possui 22 mil árvores.
A sua aposta vai ser a exportação.
Neste inverno, espera obter 15 toneladas de massa e 2.500 litros de
aguardente.
"Tem de haver capacidade de
produção e alguma escala", explica José Martins, que compra algum
medronho a pequenos produtores e sonha atingir 100 hectares de
plantação própria.
Em janeiro, começará a construir a
sua destilaria, um projeto apoiado pela Câmara da Pampilhosa da
Serra.
A venda de frutos frescos, outra
das suas apostas, está a ser estudada pela Escola Superior Agrária
de Coimbra (ESAC), que tem vários projetos de investigação neste
domínio.