Newsletter
Subscreva a nossa newsletter

Newsletter

FacebookTwitter
Jornal do Concelho de Oleiros | Francisco Carrega | Periodicidade: Trimestral | Novembro 2024 nº92 Ano XXIII
Opinião
Turismo e biodiversidade

claudia.JPGEm pleno verão, a palavra "turismo" é mais sonante do que em qualquer outra estação do ano. O nosso País é beneficiado pela sua posição geográfica, com uma vasta extensão de área costeira e com temperaturas estivais que levantam a dúvida quando surge a questão "campo ou praia?". É perfeitamente aceitável que se sonhe o ano inteiro pelos dias do dolce far niente, em que as únicas preocupações são a de encontrar a melhor e mais segura posição para sintetizar vitamina D, e a de não adormecer antes de comprar a famosa bola de Berlim.

No entanto, para além dos mais de 900 km de costa marítima continental, este quase retângulo de Nação tem muito mais opções turísticas. Turismo de cidade, gastronómico, cultural, de montanha...de natureza! Num território relativamente pequeno em relação a outros países europeus, a diversidade encontrada nestes conceitos turísticos faz com que haja interesse em visitar todas as regiões que o compõem. O turismo gastronómico não seria atrativo se de Norte a Sul apenas nos servissem cozido à portuguesa, da mesma forma que, a nível cultural, não seria interessante assistir apenas a espetáculos da dança do vira. O próprio galo de Barcelos ficaria aborrecido ao ver-se como único souvenir numa loja da especialidade!

Considerando esta falta de diversidade tão descabida e impensável, não é de estranhar a importância da biodiversidade no turismo de natureza. Na realidade, biodiversidade e turismo têm uma relação simbiótica, ou seja, mutuamente vantajosa para ambos, se o turismo for feito de forma sustentada. Caso não o seja, tanto a biodiversidade como o turismo podem sair prejudicados. Por exemplo, a importância da diversidade natural como chamariz para determinados destinos pode acarretar um aumento da pressão dos visitantes nos ecossistemas mas também pode despertar a consciencialização para medidas de conservação.

Colocando os prós e contras na balança, podemos apontar como consequências negativas do impacto do turismo na biodiversidade a pressão sobre os habitats que leva à sua perda pela realização de operações e atividades mal concebidas ou geridas, a preferência na preservação de uma determinada espécie em detrimento de outras, a eliminação da biodiversidade para implementação de infraestruturas turísticas e a alteração de outros fatores ambientais devido ao aumento de depósitos de lixo, do consumo de água, da poluição e da emissão de gases, contribuindo para as alterações climáticas. Tudo isto leva à diminuição do fluxo turístico pelo estado de degradação ou perda da biodiversidade.

Como consequências positivas temos o reconhecimento da grande importância das paisagens atraentes e de uma biodiversidade rica para a economia assente no turismo, conduzindo ao apoio político e económico para a conservação e mobilização de recursos, o desenvolvimento de produtos baseados no turismo de natureza que geram receita e outros apoios para a conservação da biodiversidade, fornecendo também incentivos diretos às comunidades para reduzir ameaças e manter ou aumentar as populações-chave de animais selvagens, e a promoção da educação e consciencialização ambiental quer a visitantes, quer às comunidades locais, oferecendo-lhes alternativa às atividades não sustentáveis.

O turismo sustentável surge assim como alternativa ao turismo de massa e é aquele que deve ser explorado na nossa região, pois é precisamente a natureza o elemento diferenciador e valorizador deste território. Sendo uma das áreas de intervenção propostas no Compromisso para o Crescimento Verde, poderá aqui residir uma das principais oportunidades económicas e geradoras de emprego. Tratemos, por isso, de receber os turistas de braços abertos, com a hospitalidade que caracteriza as nossas gentes, não esquecendo de tratar com igual cuidado a biodiversidade que os cá atrai.

Cláudia Mendes
Bióloga