Opinião
Turismo e biodiversidade
Em pleno verão, a palavra "turismo" é
mais sonante do que em qualquer outra estação do ano. O nosso País
é beneficiado pela sua posição geográfica, com uma vasta extensão
de área costeira e com temperaturas estivais que levantam a dúvida
quando surge a questão "campo ou praia?". É perfeitamente aceitável
que se sonhe o ano inteiro pelos dias do dolce far niente, em que
as únicas preocupações são a de encontrar a melhor e mais segura
posição para sintetizar vitamina D, e a de não adormecer antes de
comprar a famosa bola de Berlim.
No entanto, para além dos mais de
900 km de costa marítima continental, este quase retângulo de Nação
tem muito mais opções turísticas. Turismo de cidade, gastronómico,
cultural, de montanha...de natureza! Num território relativamente
pequeno em relação a outros países europeus, a diversidade
encontrada nestes conceitos turísticos faz com que haja interesse
em visitar todas as regiões que o compõem. O turismo gastronómico
não seria atrativo se de Norte a Sul apenas nos servissem cozido à
portuguesa, da mesma forma que, a nível cultural, não seria
interessante assistir apenas a espetáculos da dança do vira. O
próprio galo de Barcelos ficaria aborrecido ao ver-se como único
souvenir numa loja da especialidade!
Considerando esta falta de
diversidade tão descabida e impensável, não é de estranhar a
importância da biodiversidade no turismo de natureza. Na realidade,
biodiversidade e turismo têm uma relação simbiótica, ou seja,
mutuamente vantajosa para ambos, se o turismo for feito de forma
sustentada. Caso não o seja, tanto a biodiversidade como o turismo
podem sair prejudicados. Por exemplo, a importância da diversidade
natural como chamariz para determinados destinos pode acarretar um
aumento da pressão dos visitantes nos ecossistemas mas também pode
despertar a consciencialização para medidas de conservação.
Colocando os prós e contras na
balança, podemos apontar como consequências negativas do impacto do
turismo na biodiversidade a pressão sobre os habitats que leva à
sua perda pela realização de operações e atividades mal concebidas
ou geridas, a preferência na preservação de uma determinada espécie
em detrimento de outras, a eliminação da biodiversidade para
implementação de infraestruturas turísticas e a alteração de outros
fatores ambientais devido ao aumento de depósitos de lixo, do
consumo de água, da poluição e da emissão de gases, contribuindo
para as alterações climáticas. Tudo isto leva à diminuição do fluxo
turístico pelo estado de degradação ou perda da biodiversidade.
Como consequências positivas temos
o reconhecimento da grande importância das paisagens atraentes e de
uma biodiversidade rica para a economia assente no turismo,
conduzindo ao apoio político e económico para a conservação e
mobilização de recursos, o desenvolvimento de produtos baseados no
turismo de natureza que geram receita e outros apoios para a
conservação da biodiversidade, fornecendo também incentivos diretos
às comunidades para reduzir ameaças e manter ou aumentar as
populações-chave de animais selvagens, e a promoção da educação e
consciencialização ambiental quer a visitantes, quer às comunidades
locais, oferecendo-lhes alternativa às atividades não
sustentáveis.
O turismo sustentável surge assim
como alternativa ao turismo de massa e é aquele que deve ser
explorado na nossa região, pois é precisamente a natureza o
elemento diferenciador e valorizador deste território. Sendo uma
das áreas de intervenção propostas no Compromisso para o
Crescimento Verde, poderá aqui residir uma das principais
oportunidades económicas e geradoras de emprego. Tratemos, por
isso, de receber os turistas de braços abertos, com a hospitalidade
que caracteriza as nossas gentes, não esquecendo de tratar com
igual cuidado a biodiversidade que os cá atrai.